primeira coluna
Competências digitais, para não desperdiçar talento
Portugal não se pode dar ao luxo de
desperdiçar no desemprego 52 mil pessoas com formação superior. A
frase é do Primeiro Ministro, António Costa, que vê na
requalificação e no reforço da formação dessas pessoas uma
oportunidade para o regresso à vida de trabalho ativa. Foi dentro
desta perspetiva que foi criado o programa "Parceria Competências
Digitais+", apresentado em Leiria, e que na prática se traduz num
programa de formação em tecnologias de informação, orientado para
desempregados com formação de nível superior.
Esta será uma oportunidade, mas acima de tudo vem colocar na
agenda a questão da formação ao longo da vida e da requalificação
de pessoas altamente qualificadas que podem dar um contributo
importante para o desenvolvimento do país, nos seus vários
domínios. Desperdiçar talento e aprendizagens não vai ao encontro
daquilo que deve ser um país competitivo e moderno, que nalgumas
áreas possui dos melhores profissionais.
Este programa traz-nos outra dimensão, a do envolvimento das
instituições superiores politécnicas, que pela sua natureza, voltam
a ser chamadas a intervir, em conjunto com o Instituto de Emprego e
Formação Profissional e empresas de referência na área digital.
Nesta primeira fase, estão envolvidos os institutos politécnicos de
Leiria, Cávado e Ave, Castelo Branco, Setúbal e Viseu, cada um dos
quais coordenador da região em que está inserido.
O que se pretende é acrescentar valor à formação existente,
através do desenvolvimento de novas competências, sobretudo em
aspetos de transformação digital. O programa tem afetos 3,5 milhões
de euros até ao final de 2019. Para o Ministro do Ensino Superior,
"as seis redes regionais impulsionadas são a clara manifestação de
que o conhecimento é inclusivo na formação inicial mas também na
especialização, e de que o processo de transformação do digital
está relacionado com a criação de emprego".
Um dos grandes desafios do ensino superior é a formação de
diplomados para profissões que ainda não existem. Formar com
qualidade, em banda larga, sempre tendo em atenção que a
transformação digital está a mudar paradigmas de ensino, de
aprendizagem, de trabalho. O mundo em que nos movemos deixou de ser
o que passa em frente da nossa porta. Tudo é global. Muitas
profissões desapareceram, outras correm sérios riscos. Vão aparecer
novas. Não sabemos quais. Mas nunca em circunstância alguma devemos
deixar cair aqueles que, tendo formação superior, podem adquirir
novas competências, empregando todo o seu conhecimento e
experiência em novos desafios.
Este olhar não deve, na minha perspetiva, estar apenas direcionado
para quem teve a sorte madrasta de se ver numa situação de
desemprego. Deve fazer-nos refletir, às instituições de ensino
superior sem exceção, a todos os diplomados que se encontram em
funções e à sociedade, sobre a necessidade de se requalificar e se
formar ao longo da vida, através de ofertas não muito longas e
objetivas, que venham resolver questões que a nova era digital nos
está a trazer. E não falo apenas na questão tecnológica, mas sim em
todas as vertentes, porque a globalização abrange muito, sobretudo
a nossa maneira de viver, de interagir com os outros e de
trabalhar. Este deve ser o caminho.