Os Combatentes de S. Vicente da Beira na Grande Guerra
“O frio e o medo eram de morrer”
As palavras transcritas no livro «Os Combatentes de
S. Vicente da Beira na Grande Guerra», da autoria dos
investigadores José Teodoro Prata e Maria Libânia Ferreira,
apresentado este mês, em São Vicente da Beira, não deixam ninguém
indiferente. A obra, editada pela RVJ Editores, apresentada no
âmbito do armistício, pretende homenagear os combatentes que
participaram naquele conflito.
"O meu avô não era pessoa de falar muito dos tempos que passou em
França, mas lembro-
-me de ele contar que esteve uns poucos dias à espera de embarcar
em Lisboa, porque diziam que não havia transporte, mas também se
constava que era porque o Comandante da Companhia não queria
embarcar. E por lá tinham sido tempos muito difíceis. Era maqueiro
e andava sempre a acarretar os soldados apanhados pelas balas do
inimigo. Havia dias que os bombardeamentos faziam tantos mortos e
feridos que não davam vazão a socorrer tanta gente e muitos corpos
ficavam para trás. Era isso o que mais lhe custava, muito mais do
que a fome, o frio e o medo que também eram de morrer". É desta
forma que José Ivo, neto de Domingos Nunes - combatente na I Guerra
Mundial, recorda aquilo que o avô lhe contava sobre a partida para
guerra.
O livro tem a particularidade de contar as histórias dos cerca de
80 combatentes de São Vicente da Beira que participaram naquela
guerra. José Teodoro Prata e Maria Libânia Ferreira, falaram dessa
mesma relação e, na igreja onde foi apresentada a obra, havia
familiares daqueles militares que se sentiram reconhecidos pela
homenagem feita no livro, e momentos antes, pela Junta de
Freguesia, com o descerrar de uma placa.
O vice-presidente do município de Castelo Branco, José Augusto
Alves, coronel do Exército, também falou do conflito, lembrando que
"não há ex-combatentes. Há combatentes", disse, recordando a
impreparação dos nossos militares, o mau fardamento que possuíam e
a fome por que passaram.
José Augusto Alves destacou a importância da obra que olha para a
Grande Guerra numa perspetiva diferente, assente nos combatentes de
São Vicente da Beira, contando a sua história. O autarca aproveitou
para recordar como os alemães foram derrotados pelos aliados e o
papel dos portugueses nessa derrota.
O livro, apoiado pela Câmara de Castelo Branco, é um documento
histórico que fala sobre as oito dezenas de jovens militares
naturais de S. Vicente da Beira que participaram naquele que foi um
dos conflitos mais devastadores. Quem foram, como e em que
condições combateram e viveram, como regressaram, são algumas
questões que os autores procuraram dar resposta. Também Vitor
Louro, presidente da Junta de Freguesia, mostrou-se satisfeito com
a obra, destacando a investigação realizada, e a bravura dos
soldados portugueses.
Nesta obra, José Teodoro Prata e Libânia Ferreira explicam também
como os jornais de Castelo Branco, Covilhã e Portalegre,
caraterizavam os anos de 1914-18, dando o exemplo da impreparação
do nosso exército para uma guerra diferente (na Europa, as
trincheiras, o frio e os gases; em África, a guerrilha alemã e o
clima tropical), entre outros aspetos como a censura sobre os
assuntos da guerra, reforçada durante a ditadura sidonista.