Editorial
A Web Summit e a Escola Pública
No mês em que assistimos a mais uma
edição da mundial Cimeira Web (Web Summit), conviria relembrar que
a escola pública continua a ser o lugar mais privilegiado para a
divulgação e a utilização crítica das tecnologias da informação e
da comunicação (TIC).
Por isso mesmo, revela-se indispensável que os docentes sejam
formados e motivados para uso dessas "novas" tecnologias,
concebendo-as como instrumentos que devem interagir com os
projectos pedagógicos a desenvolver com os alunos.
Todavia, é importante reconhecer que, apesar da assumida
necessidade de incluir todas as novas tecnologias no processo
educativo, uma boa escola continua a ser o que sempre foi: um
espaço em que aprendentes e educadores se encontram, num ambiente
que estimula a auto estima e o desenvolvimento pessoal e que
oferece janelas de oportunidade para o sucesso num mundo que gira
em contra ciclo, ao promover o egoísmo, o individualismo e a
concorrência desregrada.
É que não há nenhuma solução tecnológica que seja capaz de induzir
o milagre de transformar um espaço pobre em relações humanas num
lugar interessante e adequado para gerar a construção de um cidadão
com sólidos valores morais e com uma ética de respeito para com os
princípios da democracia e do humanismo.
Vivemos num novo milénio que pretende reconfigurar a sociedade,
atribuindo-lhe um novo formato centrado em novas formas de receber
e transmitir a informação, o que implica uma busca interminável do
conhecimento disponível. Para alcançar tal objectivo, imputa-se à
escola mais uma responsabilidade: a de contribuir
significativamente para que se atinja o que se convencionou
designar por analfabetismo digital zero. Para tal, a educação para
a utilização das TIC precisa ser planeada desde o
jardim-de-infância. Sem preconceitos ou desnecessárias coacções,
sem substituir atabalhoadamente o analógico pelo digital, mas sim
reforçando a capacidade cognitiva dos alunos e guiando a descoberta
de novos horizontes.
Este novo movimento de ruptura não deve representar a eliminação
ou a fictícia substituição dos meios de comunicação de massa
tradicionais. O que há de novo é a necessidade de fazer convergir
todos esses meios num processo integral de formação do indivíduo,
capacitando-o para descodificar as mensagens que lhe saltam em cada
canto e cada esquina da sociedade do conhecimento.
Esse movimento deve ser capaz de preparar os jovens para serem
leitores críticos e escritores aptos a desenvolver essas
competências em qualquer dos meios suportados pelas diferentes
tecnologias. Hoje, não basta que o aluno só aprenda a ler e
escrever textos na linguagem verbal. É necessário que ele aprenda a
"ler" e a "escrever" noutros meios, como o são a rádio, a
televisão, os programas de multimédia, os programas de computador,
as páginas da Internet…
Por tudo isso, as novas tecnologias da informação e comunicação
devem obrigar à alteração dos currículos escolares e a modificação
da formação e actuação do professor, que se deve sentir obrigado a
actualizar-se em relação às TIC, por forma a acompanhar a dinâmica
de obtenção de informação e de transformação desta em conhecimento.
Nesse processo, a educação a distância assume-se como um
indispensável complemento do ensino presencial, enquanto modelo de
comunicação educativa que permite superar distâncias e ampliar o
acesso ao conhecimento.
Os jovens foram os primeiros a descobrir que as novas tecnologias
da informação e da comunicação implicam inúmeras possibilidades de
aprender. Para eles há muito que elas deixaram de ter um estatuto
de menoridade e de simples auxiliar da apreensão do conhecimento.
Os estudantes olham-nas como outras formas de aprender que implicam
a mudança dos modos de comunicação e dos modos de interação nos
grupos de pares.
Importa ter consciência que este novo mundo facilita o trabalho
docente, mas também acrescenta angústia e complica a vida do
professor. Este, para além de necessitar possuir um conhecimento
específico da área científica que lecciona, deverá também ser capaz
de identificar nas tecnologias digitais as múltiplas linguagens
favorecedoras da apreensão da realidade.
Não é fácil, mas é esta é a contribuição que as novas tecnologias
podem oferecer para a consolidação de um mundo mais solidário,
desde que a sociedade o assuma de uma forma crítica e
consciente.