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Bocas do Galinheiro
À procura do tal filme

Afinal qual é o melhor filme de sempre? De tempos a tempos a revista Sight and Sound, publicação do British Film Institute, convida um painel de jurados especializados na área para nomear os melhores filmes de sempre. Há alguns anos demos conta de que "Vertigo - A Mulher que Viveu Duas Vezes"(1958), de Alfred Hitchcock, foi considerado o melhor filme de todos os tempos, deixando para trás "Citizen Kane - O Mundo a seus Pés", de Orson Welles, que estava há 50 anos no top. A história de Scottie (James Stewart), antigo inspector da polícia de São Francisco, demitido por causa de sofrer de vertigens e que é contratado por um velho amigo para seguir a sua mulher Madeline (Kim Novak), muito bela e cujo estranho comportamento dá a entender que se possa suicidar, convenceu os votantes e representou um justo reconhecimento de um dos realizadores mais profícuos e talentosos na história do cinema.
Mais recentemente a votação revelou um resultado ligeiramente diferente: o filme de Hitchcok caiu para oitavo lugar, a fita de Orson Welles, ficou em terceiro, sendo que o melhor filme na sequência da votação em que participaram mais de três centenas de realizadores, foi "Viagem a Tóquio" (Tokyo Monogatari,1953), de Yasujiro Ozu. Dúvidas não tenho de que se trata de um dos filmes maiores da história da 7ª arte, que tivemos o privilégio de ver em Castelo Branco aquando de uma retrospectiva de Ozu no Cine-Teatro Avenida, em cópia restaurada, e onde passou também "O Gosto do Saké", de 1962. "Viagem a Tóquio" aborda duas temáticas distintas: por um lado o renascer/reconstrução do Japão no pós II Guerra, a batalha da industrialização, que dá lugar à "ocidentalização" do país, visível na edificação de prédios modernos, e por outro envelhecimento, personalizado no casal de idosos que sente o progressivo afastamento dos filhos, não só geográfico, daí a tal viagem a Tóquio, mas também pela mudança social que rasga com o sistema familiar tradicional. Para quem não viu, um dos tais "filmes para ver antes de morrer".
Desta última lista no top ten, para além dos já referidos, estão "Ladrões de Bicicletas" (1948), de Vittorio de Sica, um marco do neo-realismo, "O Espelho" (1975), de Andrei Tarkovsky, "O Padrinho" (1972) e "Apocalypse Now" (1979), de Francis Ford Coppola, "Taxi Driver" (1976), de Martin Scorsese, que imortalizou Robert DeNiro, "Felini Oito e meio" (1963), de Federico Fellini, a história de um realizador em crise, uma revisitação pelo própria à sua obra e "2001: Odisseia no Espaço" (1968), de Stanley Kubrick, um marco do cinema de ficção científica.
Mais recentemente acontece uma viragem absoluta nesta temática das listas, espelho do(s) gosto(s) de agora. A lista publicada pelo IMDb, um site onde se pode obter quase toda a informação sobre filmes, vem mostrar que a diversidade de gostos é uma realidade, talvez mais hoje do que nunca, e por maioria de razão quando se sai do nicho dos opinadores e profissionais da área. Ou seja, o gosto do público, pelo menos do frequentador da plataforma em questão, não coincide, ou mesmo diverge bastante do dos especialistas. Não estranha assim que encabece esta lista dos dez mais, na sequência da avaliação dos utilizadores, um filme que foi arrasado nos Óscar de 1995: "Os Condenados de Shawshank" (The Shawshank Redemption, 1994), dirigido por Frank Darabont, baseado num conto de Stephen King, que nos conta a cumplicidade de Andy Drusfene (Tim Robbins) e "Red" (Morgan Freeman), condenados a prisão perpétua em Shawshank, o primeiro por um homicídio que jura não ter cometido, o da mulher e do amante desta, e a volta que consegue dar ao texto nos longos anos de encarceramento. Nomeado para sete Óscar, não venceu nenhum, tornando-se o grande derrotado da cerimónia de 1995. Hoje integra a galeria dos filmes de culto de que esta avaliação é reflexo.
Seguem-se nesta listagem "O Padrinho" e "O Padrinho: Parte II", de F.F. Coppola, claro, em que brilharam Marlon Brando e Al Pacino, este em ambos, "O Cavaleiro das Trevas" (2008), de Christopher Nolan, uma peculiar visão do universo Batman, "Doze Homens em Fúria" (1957), de Sidney Lumet, brilhante incursão do realizador no mundo da justiça e da busca do melhor veredicto, mesmo que o óbvio aponte em sentido contrário, com Henry Fonda noutro dos seus brilhantes papéis, "A Lista de Schindler" (1993), realizado por Steven Spielberg, uma abordagem muito pessoal do drama dos judeus na II Guerra Mundial, um vencedor dos Óscar, "O Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei" (2003), terceira parte da saga de Peter Jackson sobre a obra de J.R.R. Tolkien, que também arrasou nos Óscar de 2004, 11 estatuetas, "Pulp Fiction" (1994), de Quentin Taratino, um marco na filmografia do realizador, que nos brindou depois com outras obras-primas, a que se seguem "O Bom, o Mau e o Vilão" (1966), de Sergio Leone, expoente máximo do "Spaghetti Western", de que Tarantino é fã incondicional, onde me incluo também, lembrar o seu "Django Libertado", de 2012, e, fecha a lista dos 10 mais "Clube de Combate" (1999), de David Fincher.
Da minha lista fariam obrigatoriamente parte nomes como Woody Allen, John Ford, Frank Capra, François Truffaut, Charles Chaplin e um longo etecetera, bem como filmes como "Casablanca", "Blade Runner", "Easy Rider" e por aí adiante. Talvez um dia faça a minha lista. Mais uma promessa a acrescentar às muitas que aqui fiz.
Até à próxima e bons filmes!

 



Luís Dinis da Rosa
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
 
 
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