Manuel Poirier Braz, advogado e consultor de empresas, explica
Como conquistar um emprego
Manuel Poirier Braz, advogado e consultor de
empresas, escreveu nos últimos cinco anos onze livros, oito deles
já publicados. Como Conquistar um Emprego foi publicado pela
editorial Presença e pretende ajudar a conseguir um emprego em
tempo de crise económica e desemprego crescente. Em entrevista, a
que responde por e-mail, o autor defende uma atitude optimista e
verdadeira quando se procura um trabalho, afirma que as famílias e
a escola não preparam os jovens para a vida profissional, e deixa
os principais conselhos a seguir em qualquer entrevista de
emprego.
Como Conquistar um Emprego já está
nas bancas. Porquê este livro?
A ideia de escrever
este livro surgiu da constatação de que nem a família nem a escola
estão a preparar os jovens para a vida profissional. Todavia, a
educação para a vida deveria ser a preocupação essencial daqueles
que têm responsabilidades em relação à juventude. É necessário e
urgente que as conversas das famílias e os currículos escolares
passem a incluir valores e conceitos como: integridade, ética,
responsabilidade, respeito pela lei e pelos direitos dos outros
cidadãos, disciplina, amor ao trabalho, pontualidade e assiduidade,
esforço de poupança e desejo de superação.
Afirma no final da nota prévia de Como Conquistar um
Emprego que "Este livro é dirigido a todos aqueles que lutam por
conseguir um emprego, especialmente aos jovens que, por falta de
independência económica, se vêem forçados a protelar os seus
legítimos projectos de vida e correm o risco de descrer da
liberdade e da democracia"...
De um modo geral os
jovens de hoje, incluindo os que concluem o ensino superior,
manifestam um desconhecimento impressionante sobre o que se passa
no mundo do trabalho. Por isso, muitos deles, quando procuram um
emprego limitam-se a enviar alguns currículos através do correio ou
pela Internet e ficam passivamente a aguardar que sejam
contactados. Ao indicar vários caminhos para o aperfeiçoamento
pessoal e para conquistar um emprego e ao proporcionar uma visão,
ainda que sintética, da perspectiva da empresa face aos objectivos
do recrutamento e da selecção, este livro procura fornecer uma
ajuda prática, útil e realista, a todos aqueles que lutam pela
conquista de um primeiro emprego ou para sair de uma indesejável
situação de desemprego.
Quais seriam os principais conselhos que daria a quem está
à procura de emprego?
Acima de tudo assumir
uma atitude optimista, visto que o pessimismo é o primeiro passo
para o fracasso.
A "profissão" de quem
está desempregado é procurar um emprego e as profissões exercem-se
a tempo integral ou seja, pelo menos das 9 às 19 horas de todos os
dias úteis. Quem procura um emprego deve dedicar a esse objectivo
todo o seu tempo disponível. Só esta atitude permitirá reduzir o
tempo durante o qual vai estar desempregado.
Quando se procura um emprego a resposta mais frequente
é 'Não'. Nunca se deixe abater por cada recusa. Quanto mais vezes
ouvir a palavra 'Não' mais próximo estará do 'Sim'.
Oriente a sua procura de emprego para as micro,
pequenas e médias empresas, pois apesar de oferecerem menos
regalias são as principais criadoras de emprego e é mais fácil ter
acesso aos respectivos responsáveis. Abra
o leque das suas opções e, se já trabalhou, não fique à espera de
obter o mesmo tipo de trabalho que fazia antes.
Talvez tudo se torne mais fácil se, em vez de procurar
emprego, o leitor procurar trabalho.
Um
só gesto negativo de um candidato a emprego pode ser suficiente
para deitar por terra a entrevista de trabalho e a hipótese de
conseguir o lugar?
As pessoas que, dentro
e fora das empresas, efectuam recrutamento e selecção são
especialistas que estão preparados para compreender e aceitar as
hesitações e dificuldades dos candidatos a emprego. O seu objectivo
é encontrar os mais inteligentes, os mais aptos, os mais
experientes e, por vezes, os menos exigentes. Daí não ser
previsível que um simples gesto negativo possa, só por si,
comprometer a candidatura a um emprego. Existe, contudo, um aspecto
que é essencial: a pontualidade. Chegar atrasado a uma entrevista
de emprego (mesmo que o atraso seja pequeno) é o mesmo que pedir
para não ser admitido. Com efeito, de uma maneira geral, os
entrevistadores eliminam, sem necessidade de qualquer outra
consideração, os candidatos que chegam atrasados.
Na
sua opinião, o que é absolutamente proibido fazer numa entrevista
de trabalho?
Em regra, o
entrevistador espera encontrar uma pessoa sincera e dotada de
frontalidade, ou seja, que não dá respostas evasivas ou
redundantes. Na minha opinião, o erro mais grave que se pode
cometer numa entrevista de selecção é mentir sobre as habilitações
ou sobre os antecedentes profissionais. É
também necessário evitar as "meias verdades", pois como disse o
nosso grande escritor Almeida Garrett: "A metade da verdade é uma
mentira completa."
O
desemprego nas sociedades ocidentais é um fenómeno com tendência a
agravar-se?
A sociedade de
abundância e exigência ocidental, de que temos feito parte,
encontra-se dramaticamente confrontada com as sociedades de
renúncia asiáticas, africanas e de alguns países centro e
sul-americanos. Perante esta nova
realidade, o modelo de Estado-providência europeu tornou-se
demasiado oneroso em relação ao resto do mundo e, a breve trecho, a
sua manutenção será impossível. Deste
modo, a perda progressiva de regalias sociais, o desemprego e a
dificuldade em conseguir um primeiro emprego serão as vertentes de
um verdadeiro flagelo que assola as sociedades ditas "ocidentais" e
para o qual os governos não encontram soluções viáveis e
consistentes. Tudo indica, infelizmente,
que o fenómeno do desemprego se irá agravar no futuro e que o nosso
país não poderá constituir uma excepção.
Este livro vai ajudá-lo a conquistar um emprego como
escritor?
Qualquer que seja o
interesse despertado pelos meus livros continuarei a exercer a
profissão de advogado e consultor de empresas, actuando como
profissional independente. O facto de nos
últimos cinco anos ter escrito onze livros, dos quais se encontram
publicados oito, não permite que me considere "escritor", nem que
encare essa profissão como modo de vida. Aliás, pelo menos desde
Camilo Castelo Branco, é sabido como no nosso país é difícil fazer
das letras profissão. De qualquer modo, a
actividade de escritor não seria compatível com a subordinação
hierárquica que, por sua vez, constitui uma das principais
características do contrato de trabalho. De facto, para que o
escritor possa ser verdadeiramente criativo é indispensável que
seja livre e independente. É talvez por isso que nalgumas
sociedades onde não existe liberdade e democracia pode haver
crescimento económico, mas a actividade literária é quase
inexistente.
Eugénia Sousa
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