Suplemento

Carlos Maia e o ensino superior
É preciso coragem política!

P1016696.jpgPerante o cenário que o país atravessa, são exigíveis medidas de discriminação positiva para as instituições de ensino superior do interior do país?

É importante sublinhar que as instituições de ensino superior do interior país estão solidárias com as dificuldades que o país atravessa. E já demonstraram isso. Mas são também bons exemplos de boa gestão dos dinheiros públicos. No nosso caso fazemos uma gestão rigorosíssima e com resultados muito positivos. Mas os cortes cegos na educação poderão ser gravosos e extremamente danosos para o futuro do país. A qualificação será a maior ferramenta que o país poderá dispor no futuro para fazer face a estes e outros desafios. Quanto mais qualificada for a população, mais preparado estará o país. Posto isto, e respondendo à sua questão, se o número de vagas no interior do país, não sofrer alterações, corremos o risco dos nossos jovens irem para o litoral. Defendo um conjunto de medidas que devem dirigir-se não só ao ensino superior. São necessárias medidas de coesão nacional. Nós estamos a duas horas dos grandes centros urbanos e têm que haver medidas e investimento público para que as pessoas se fixem na região. Por mais dinâmicos que sejam os autarcas e as instituições de ensino superior, sem investimento público que fixe as pessoas a estas regiões dificilmente daremos a volta. A demografia não engana!

Para algumas medidas é preciso coragem política...

Não é admissível que em Lisboa, por exemplo, onde existem três universidades e um politécnico, quando se fala em reorganização da rede as pessoas olhem para Portalegre, Bragança, Tomar, Santarém, Guarda ou Covilhã, por exemplo. Porque é que não olham para Lisboa?! Será muito menos penalizador encerrar uma instituição de ensino superior em Lisboa, Porto ou Coimbra do que em Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Covilhã, Bragança ou Santarém. Isto porque os estudantes do litoral facilmente arranjarão uma solução, enquanto que no interior haverá dificuldades das famílias em colocar os alunos a estudar fora. Uma das grandes vantagens da criação dos institutos politécnicos, foi a possibilidade de permitirem às populações acederem ao ensino superior e se qualificarem. O meu receio pelos cortes cegos é precisamente nesta questão. Se se verificarem esses cortes cegos, muitas pessoas deixarão de poder aceder ao ensino superior. E isso será gravíssimo para o futuro do país, pois nunca mais alinhará com a Europa e com o mundo. Não tenho dúvidas que perante a situação de crise que o país atravessa, qualquer medida que venha a ser tomada a sociedade vai aceitá-la em nome da contenção. Mas é preciso muito cuidado e muita ponderação.

Mas é necessária a reorganização da rede?

A reorganização da rede não tem que ser feita exclusivamente à custa da extinção e encerramento de instituições. Há pessoas a quem isso poderá interessar, pois há perspectiva que se umas fecharem outras ficarão mais fortes. Isso é de uma total mesquinhez e clara falta de visão estratégica. Nós devemos ver o país como um todo. É necessário que haja a coragem política de garantir o número de vagas que sustente as instituições de ensino superior do interior e que haja uma redução de vagas no litoral.

E o número de candidatos ao ensino superior continua a decrescer...

A perspectiva é de que o número de candidatos continue a decrescer. O que é dramático no sistema de ensino superior português é que não há a possibilidade dos dirigentes das instituições fazerem um planeamento consistente para o futuro. Isto porque ninguém nos consegue responder quantos candidatos teremos em 2012, já que esse número resulta do grau de dificuldade das provas de ingresso. Alguma coisa não está bem! Não tem havido uma política de ensino que conjugue todos estes factores. É inadmissível que se continuem a verificar níveis de insucesso na matemática ou física, por exemplo, o que tem repercussões na entrada para o ensino superior. É necessário atacar esse problema no ensino básico e secundário.

 
 
 
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