José Cabral
Ao Estilo de José Cabral
José Cabral é o autor do blogue O Alfaiate Lisboeta,
de um livro com o mesmo nome e da campanha de promoção da capital,
Lisboa Somos Nós. Os retratos que tira às pessoas, que encontra por
acaso nas ruas já chegaram às páginas do The New York Magazine.
Mas, é ter as suas fotografias a promover Lisboa, numa campanha
institucional única fundamentada por um blogue, que é o seu maior
motivo de orgulho. José Cabral retrata por email um projecto
singular chamado O Alfaiate Lisboeta.
O que o
levou a criar um Blogue chamado O Alfaiate Lisboeta?
As pessoas esquecem-se mas a
blogosfera tem um contributo enorme para a livre expressão das
pessoas. A blogosfera tornou possível que pessoas como eu -
perfeitos anónimos - tivessem um espaço livre onde pudessem
publicar os seus projectos, ideias, anseios ou o que quer que lhes
passasse pela cabeça. Eu comecei o meu blogue em particular porque
tinha ganas de iniciar um projecto criativo, estava cada vez mais
saturado da minha vida profissional e, um dia, um amigo me mostrou
uns poucos blogues internacionais onde os seus autores publicavam
imagens de anónimos com quem se cruzava na rua por quem se sentiam
inspirados visualmente.
Tem um
curso de Sociologia, foi bancário de profissão e diz que quando lhe
ocorreu a ideia de retratar pessoas na rua, não percebia nada de
fotografia. Mas, os seus retratos são muito bons. Quando é que
começou a perceber de fotografia?
Para lhe ser completamente franco eu
continuo a achar que percebo muito pouco de fotografia.
Simplesmente, com o tempo, fui-me apercebendo daquilo que era
necessário fazer para que o resultado estético (mais que o técnico)
das imagens que faço se aproximasse daquilo que eu pretendia.
Ainda se
lembra da primeira pessoa que fotografou na rua? Quem era e como
estava vestida?
Claro que sim! A primeira
fotografia a ser publicada foi a de um grande amigo meu e a quem
liguei a dizer " Gonçalo, quero começar um blogue assim e assado
mas, antes de ir para a rua fotografar estranhos, queria
experimentá-lo com uma pessoa amiga". Essa história está aliás
assumida e narrada no blogue como demonstração do quão rudimentar e
tosco é o meu trabalho.
O blogue
deu origem ao livro O Alfaiate Lisboeta (Oficina do Livro). É o
estilo que o leva a querer fotografar pessoas, ou a escolha vai
para além da roupa?
O estilo é, de facto, o ponto de partida para eu
abordar alguém na rua e lhe sugerir uma fotografia. Mas sim, a
concepção que tenho do meu trabalho é de que, precisamente, ele vai
além da imagem estética da pessoa. Ou, pelo menos, que os seus
pontos altos são precisamente quando isso acontece.
No livro O
Alfaiate Lisboeta pode ler-se «Tenho as paredes do meu quarto
literalmente forradas com fotografias de viagens. E em todas elas
há pessoas. Não tenho retratos de planícies verdes ou de monumentos
imponentes. Pessoas, apenas pessoas.». De onde vem esse fascínio
pelas pessoas?
Desde sempre. Acho que sou um tipo
orientado para as pessoas e, aparentemente, com a mudança radical
de vida que foi deixar a minha vida de bancário para fazer o que
quer que faça agora (até eu tenho dificuldade em explicar o que
faço) passei a fazer aquilo que, objectivamente falando, mais
sentido tem para uma pessoa com as minhas características.
Este ano
criou a campanha Lisboa Somos Nós. Em que consistiu esse
projecto?
Basicamente dei-me conta, por via
de feedback de estrangeiros que pareciam interpretar Lisboa a
partir do meu trabalho, que o meu blogue era também ele um espelho
da cidade. Agarrei em conteúdos do blogue (11 fotografias tiradas
em pontos diferentes da cidade) e quis fazer sentir a todos os que
vivem, trabalham e passam por Lisboa que é precisamente a sua
vivência, os seus sentimentos e a sua forma de agir que - tanto
quanto o património histórico ou cultural - fazem de Lisboa a
cidade que ela é hoje. E foi a melhor coisa que já experimentei na
minha vida profissional. Assinar totalmente uma campanha (que eu
próprio apresentei à CML) para fazer sentir às pessoas - lá está,
as pessoas (risos) - que, de facto, o seu papel é maior do elas
próprias imaginam.
Pode
dizer-se que O Alfaiate Lisboeta é também um livro de viagens pelas
ruas das cidades...
Sim. Na prática como que descrevo os
lugares através das pessoas que os percorrem.
A capa do
seu livro é o retrato de uma mulher jovem, com um vestido branco
que mostra umas asas tatuadas nas costas. Chamou-lhe a fotografia
da sua vida. Conte-nos a história dessa fotografia...
Eu não tenho uma única tatuagem no
corpo e, para lhe ser franco, é raro ver uma de que goste. Se
alguém me fizesse uma descrição textual daquela mulher dificilmente
me sentiria tentado a fotografá-la. E isso é o mais interessante
que pode suceder a alguém como eu. É revolucionar a sua própria
perspectiva e visão das coisas. Aquela mulher surpreendeu-me. E
isso é marcante. Aparte disso a fotografia saiu melhor do que eu
poderia imaginar. E tudo junto faz daquela imagem a fotografia da
minha vida (até à data).
Qual é para
si a melhor história por detrás de uma foto que tenha feito?
Talvez a da mulher grávida semi-nua
que fotografei numa praia em Maiorca. Acho que há um sentido bonito
em ter uma mulher despojada de roupa numa publicação na qual,
precisamente, se esperaria que a roupa fosse o centro das atenções.
E, ainda assim, insistir que tudo aquilo tem sentido. Que tudo
aquilo faz sentido.
Ter as suas
fotografias publicadas no The New York Magazine é para si especial
motivo de orgulho?
Sim claro. Mas ter as minhas
fotografias a promover e a acrescentar valor à minha cidade na
única campanha institucional em todo o mundo assinada por um blogue
orgulham-me muito mais (risos).
Em criança
sonhava em ser o quê?
Futebolista, jornalista /
comentador desportivo, arquitecto, geógrafo, viajante (e por aí a
fora..).