Os alunos com Necessidades Especiais
O alargamento da escolaridade
As consequências do alargamento da
escolaridade obrigatória para os alunos com necessidades educativas
especiais (NEE) tardou a ser equacionado pelos decisores políticos.
Nas audições parlamentares que a Comissão de Educação Ciência e
Cultura da Assembleia da República efetuou, este atraso foi
repetidamente identificado como uma necessidade a que era preciso
dar uma resposta atempada e afirmativa. A exclusão dos alunos que
experimentam dificuldades no cumprimento das metas curriculares do
ensino básico, nunca poderia ser uma solução: não poderíamos
minguar a Educação a quem mais dela precisa. O princípio de partida
é que os alunos com NEE têm tanto ou mais necessidade de frequentar
os 12 anos de escolaridade do que todos os seus colegas que não têm
NEE. (Seria como cuidar de uma planta com uma terapêutica de
ausência total de água).
Ora, uma esmagadora percentagem dos
alunos com NEE frequentam em Portugal a escola regular. Esta
política de todos os alunos - com e sem NEE - serem educados na
escola regular estabelecendo relações pessoais, de aprendizagem e
de entreajuda, é uma orientação internacional (referência ao artigo
24º da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência das
Nações Unidas) que se tem procurado seguir no nosso país, ainda que
com resultados desiguais.
Se os alunos com NEE têm direito e
proveito em frequentar doze anos de escolaridade e cumpriram nove
na escola regular, pareceria estranho que os últimos três anos
fossem passados fora da escola regular. Pareceria e parece,
sobretudo quando se lê a portaria 275 -A / 2012 publicada a 11 de
Setembro pelo Ministério da Educação e Ciência. Nesta portaria
postula-se que os alunos que são portadores de um Currículo
Específico Individual, nos 3 anos antes da idade limite da
escolaridade obrigatória, passam a ter um currículo de 25 horas
semanais das quais só 5 horas são da responsabilidade dos docentes
de Educação Especial das escolas regulares. Nestas cinco horas são
lecionados conteúdos de Português, Matemática, 2ª Língua e
Tecnologias da Informação e Comunicação. As restantes 20 horas são
ministradas por técnicos e monitores dos Centros de Recursos para a
Inclusão que asseguram as áreas de Desenvolvimento Pessoal, Social
e Laboral, Desporto e Saúde, Organização do Mundo Laboral e
Cidadania.
Este deslocamento do eixo educativo
da escola regular para os Centros de Recursos para a Inclusão
levantam-nos três ordens de questões:
1. Se a escola regular assegurou a
educação de jovens com NEE durante pelo menos nove anos, porque é
que ela deixa de estar capacitada para continuar a exercer a
competência e o conhecimento que entretanto acumulou sobre estes
casos?
2. Quando se retiram às escola
áreas como "Desenvolvimento Pessoal, Social e Laboral", "Desporto e
Saúde" ou "Cidadania" isso será por se considerar que os alunos com
NEE aprendem melhor estas áreas se estiverem com colegas com
condições de deficiência, num meio segregado e mais restritivo que
a escola regular?
3. Deixar à escola regular só os
conteúdos de "Português" e "Matemática" - ainda por cima tão
encolhidos de carga horária - passa uma mensagem clara: afinal as
áreas estruturantes da última reforma curricular só são importantes
para os alunos sem NEE! Com esta carga horária deixam de ter
relevância "estruturante". Outro aspeto ainda a considerar é que se
passa a mensagem que a escola é para aprender conteúdos académicos
(Português e Matemática) e que o Desenvolvimento, a Cidadania, o
Desporto e Saúde (!) são áreas secundárias em termos
educativos.
Precisamos de pensar do ponto de
vista da educação o alargamento da escolaridade para os alunos com
NEE. Isto não pode significar a desvalorização da inclusão: pelo
contrário é através da inclusão e da interação entre todos, que
todos melhor se irão preparar para a vida pós escolar.
David Rodrigues
Professor Universitário/Presidente da Associação Nacional de Docentes de Educação Especial