Primeira coluna
Da teimosia ao erro
O ensino português assistiu, nos últimos
meses, a um conjunto de situações que em nada dignificam a escola
pública, nem a ética no ensino. Exemplos disso foram a trapalhada
da colocação de docentes nas escolas; a demissão do secretário de
Estado do Ensino Básico; o pedido de desculpa do ministro da tutela
- que teve a coragem de o fazer -, mas que ainda assim o seu
ministério teve dificuldade em resolver o problema criado; ou os
cortes que querem impor às instituições de ensino superior, com a
ameaça de lhes cativarem uma percentagem significativa das suas
receitas próprias (aquelas que não resultam do Orçamento do Estado,
mas sim da prestação de serviços à comunidade e das propinas, entre
outras).
Os problemas resultantes de toda
esta situação são muitos e transversais aos diferentes graus de
ensino.
A falta de docentes nas escolas
levou a que o ano letivo arrancasse de uma forma muito negativa,
expondo os seus responsáveis, que de mãos atadas mais não podem
fazer que respeitar as regras da tutela. Colocou docentes de
décadas com a vida de pernas para o ar, como se estivessemos a
falar apenas de números e não de pessoas que têm nome e família.
Colocou alunos com horas letivas por preencher que em muitos casos
nem eram asseguradas pelas de substituição. Colocou as famílias dos
alunos espantadas com a falta de respostas, acusando a escola
pública de ser a culpada, a mesma escola a quem confiam os seus
filhos durante a maior parte do dia. E a escola, por toda a boa
vontade que tenha, nem sempre lhes conseguiu dar respostas neste
início de ano escolar.
Errar é humano e só não erra quem
nada faz. Mas a teimosia pode ser simultaneamente uma virtude ou um
defeito. E neste caso revelou-se um defeito, pois quando se insiste
no erro e só depois se corrige, tudo fica mais difícil de ser
corrigido. Muito mais numa máquina como o Estado que tem regras e
períodos temporais impostos pela legislação a cumprir. Tal como a
escola tem que cumprir os programas curriculares para com os seus
alunos.
No ensino superior, a situação
também não é clara (pelo menos até à hora em que escrevia esta
crónica) no que respeita aos orçamentos para as instituições e à já
anunciada ameaça de cativação de receitas próprias. O ensino
superior não constou do memorando da Troika nem contribuiu para o
défice público, mas sempre esteve solidário com o país. O problema
é que essa solidariedade quase comeu o músculo das instituições e
está a chegar-lhes ao osso, num período em que Portugal está muito
longe de conseguir atingir a meta de qualificar uma grande
percentagem de portugueses até 2020. Esperemos que o bom senso
prevaleça para que as instituições portuguesas voltem mais
musculadas e os portugueses fiquem mais qualificados.