Suplemento

Carlos Maia, presidente do IPCB
Politécnico tem mais alunos

P1015668.jpgQual a análise que faz à entrada de novos alunos na instituição este ano letivo?

Comparativamente com o ano anterior, o IPCB conta no presente ano letivo com mais 86 alunos nos cursos de licenciatura. Na relação entre o número de colocados e o número de vagas disponibilizadas, o Instituto Politécnico de Castelo Branco continua a ser o politécnico do interior do país com a taxa de ocupação mais elevada, uma meta estabelecida no primeiro ano do anterior mandato e que temos conseguido atingir consecutivamente, com o esforço de todos. De salientar ainda que apesar de a nível nacional se terem candidatado à 1ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior quase mais dois mil candidatos do que em relação à 1ª fase no ano passado, no final foram colocados 41464 estudantes, menos 17 do que em 2013, o que contrasta com a subida verificada no IPCB.
Além disso, de entre os colocados no Instituto Politécnico de Castelo Branco na primeira fase, 63% conseguiram lugar na primeira opção, o que demonstra a adequação da oferta formativa do IPCB às necessidades e preferências dos estudantes que procuram a Instituição. Este indicador é manifestamente superior à média nacional que este ano se situou nos 54%.

Pela primeira vez vão avançar com cursos de ensino superior de curta duração. Que expetativas o IPCB tem?

O IPCB propôs cinco cursos técnicos superiores profissionais e foram todos aprovados. Da Escola Superior Agrária foi proposto o curso de Produção Animal e o curso de Biotecnologia de Plantas e Produtos Naturais, na Escola Superior de Gestão o curso de Gestão de Pequenas e Médias empresas na Escola Superior de Tecnologia os cursos de Data Center e Computação em Cloud e ainda Reabilitação do Edificado.
De salientar que o IPCB cumpriu escrupulosamente todos os prazos que lhe foram solicitados e as escolas fizeram um grande esforço no sentido de apresentarem propostas. Mas ficou demonstrado que da parte das outras entidades intervenientes no processo, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), a Agência Nacional para a Qualificação o Ensino Profissional (ANQEP) e a própria Direção Geral do Ensino Superior (DGES), os procedimentos não estavam devidamente afinados e que havia uma grande impreparação do sistema para apreciação das propostas, o que justifica que só em meados de outubro se estejam a publicitar estes cursos. Pelos timings em que as candidaturas estão a decorrer, a procura será bastante reduzida. É urgente que haja uma análise rigorosa do processo e que se introduzam as medidas corretivas necessárias, nomeadamente a eliminação da coexistência destes cursos com os de especialização tecnológica. Também não faz sentido, por uma questão de transparência e até para defesa do IEFP, que as propostas de cursos técnicos superiores profissionais, efetuadas por uma instituição de ensino superior, sejam submetidas ao IEFP. Isto porque as instituições de ensino superior politécnico vão deixar de poder lecionar cursos de especialização tecnológica a partir de 2015/16 enquanto o IEFP vai poder continuar a lecionar esses cursos. Além disso, os cursos técnicos superiores profissionais devem ser submetidos à Agência de Avaliação e Acreditação (A3ES), tal como a restante oferta formativa de ensino superior.

Estão ultrapassadas as questões com o ministério sobre a diferenciação com os CET's?

Não se trata de questões com o Ministério. Trata-se da obrigatória clarificação que é necessário fazer no âmbito do quadro nacional de qualificação, porque não é possível que um curso pós-secundário, como é o caso dos cursos de especialização tecnológica, e um curso superior, como é o caso dos cursos técnicos superiores profissionais, sejam ambos de nível cinco. É uma situação demonstrativa de como o processo foi construído e que não tendo sido acautelada contribuirá para ser mais um fator a criar confusão nos eventuais candidatos no momento da escolha. Terá de ser feita, obrigatoriamente, uma diferenciação.

Mais de 90 por cento dos alunos do IPCB estão satisfeitos com a instituição. Os resultados vão ao encontro das vossas expetativas?

Trabalhamos diariamente para que os níveis de satisfação sejam os mais elevados. E estes valores agora alcançados deixam-nos bastante satisfeitos, apesar de ainda haver margem para progressos numa ou noutra área. Para além da satisfação com os serviços académicos e com os serviços de ação social, é de realçar a perceção positiva dos estudantes com o papel e com a imagem global e da Instituição.

Entrou num novo mandato e prometeu alterar o funcionamento da instituição. O que é que poderá mudar na orgânica do IPCB? Como vão articular-se as escolas entre si? Podem surgir fusões?

A Instituição terá de adequar as suas estruturas à realidade e às necessidades atuais. Terá de haver uma adequação da estrutura, tanto a nível científico, que assentará numa maior cooperação e transversalidade entre as áreas científicas, como a nível orgânico-funcional, através da reorganização das estruturas e serviços. As escolas já começaram um trabalho de cooperação entre si, o que permite que os docentes lecionem em várias escolas do IPCB, consoante a sua área de formação. Houve reuniões preparatórias entre os vários presidentes dos conselhos técnico-científicos, ainda em termos experimentais e após um levantamento das várias áreas, no sentido de promover essa transversalidade. No entanto, esse trabalho vai ser continuado e aprofundado. Também em termos de serviços se registaram algumas alterações, nomeadamente através da centralização dos serviços académicos e a integração dos serviços de ação social no IPCB, passando o administrador a ser único. O modelo de reorganização da instituição será o que resultar do debate e da escolha da instituição através dos seus órgãos responsáveis. Terá de ser, obrigatoriamente, um processo muito debatido e participado. Serão apresentados princípios fundamentais com base nos quais se deve estruturar a adequação da Instituição e depois, com a participação de todos, construir-se-á o modelo que conduzirá a uma nova forma de funcionamento.

Paira sobre as instituições de ensino superior o impedimento de utilizarem todas as receitas próprias obtidas. Como analisa essa situação?

P1015669.jpgA confirmar-se, vejo com bastante preocupação, uma vez que, por um lado constitui uma quebra nas receitas da Instituição e por outro um desincentivo a que se gerem receitas próprias, quando deveria haver incentivos às instituições que demonstrassem possuir a capacidade de as gerar. Acredito, no entanto, que à semelhança de anos anteriores o Ministério das Finanças vai permitir a utilização das receitas próprias por solicitação das instituições.

Esses cortes não colocam em causa a meta 2020?

Não será fácil conseguirmos atingir essa meta, em que se pretende que em 2020 pelo menos 40% da população entre os 30 e os 34 anos tenham completado o ensino superior. Os últimos dados disponíveis referem-se a 2013 e apontam para 29% em Portugal. De realçar que a Irlanda apresenta valores da ordem dos 52%, enquanto a média europeia se situa nos 37%. Apesar dos valores apresentados por Portugal, ainda é frequente ouvir dizer-se que o nosso país tem licenciados a mais, o que é um total disparate. O principal problema do país é que tem emprego a menos.

Este ano foram apresentados dois novos programas de apoio aos alunos: o Retomar e o + Superior. De que forma o IPCB pode tirar vantagens deles? A regulamentação é a adequada?

É sempre de enaltecer a criação de programas que tenham por objetivo atrair mais cidadãos para o ensino superior, tendo em conta o défice de qualificação que ainda se verifica na nossa sociedade. O programa Retomar tem como objetivo possibilitar o regresso de estudantes que abandonaram precocemente os cursos anteriormente frequentados, podendo, no entanto também optar por realizar uma nova formação. Esta bolsa destina-se essencialmente a pessoas que não estudam nem estão inseridas no mercado de trabalho. Qualquer instituição de ensino superior pode acolher esses estudantes.
Por outro lado, o programa + Superior tinha como objetivo incentivar a vinda de estudantes para as instituições de ensino superior do interior, habitualmente com menos procura, o que teoricamente poderia vir a contribuir para a coesão territorial, ao permitir atrair jovens para zonas mais envelhecidas assim como utilizar a capacidade educativa instalada das instituições dessas regiões. No entanto, o programa foi lançado após as colocações da 1ª fase do concurso nacional de acesso, pelo que me parece que teve um efeito prático reduzido ou até nulo, isto é, estou convencido que nenhum aluno veio do litoral para o interior por influência do programa + Superior.

Concorda com a ideia de que continua a existir uma forte litoralização do ensino superior?

Não tenho qualquer dúvida. Basta analisarmos as vagas disponibilizadas no concurso nacional de acesso: 80% no litoral e 20% no interior. Mas não tenho qualquer esperança na correção da situação, porque a litoralização do país não é apenas uma questão do ensino superior. É uma questão nacional. Trata-se de uma questão de coesão territorial e o ensino superior poderia e deveria ter um papel determinante na correção das assimetrias existentes, o que permitiria um maior equilíbrio entre as zonas mais desertificadas e as mais densamente povoadas. Mas teria de haver coragem política para implementar algumas medidas. Existe uma capacidade educacional nas instituições do interior que está subaproveitada e que poderia ser rentabilizada, sem necessidade de qualquer reforço orçamental. Mas as zonas mais povoadas têm uma representação na Assembleia da República que tornará impossível a implementação de medidas de discriminação positiva para o interior.

Este ano a Esart já funciona nas novas instalações. Chegou a temer que a nova escola não fosse construída?

Tive sempre uma forte convicção de que iríamos conseguir construir a escola, mas houve momentos em que as coisas estiveram bastante difíceis, apesar dos serviços do IPCB terem respondido sempre atempadamente a todas as solicitações. Resolvemos todas as situações em tempo record. Foi necessário efetuar várias reprogramações. A construção da ESART foi dos processos mais difíceis. Relembro que a escola foi construída em plena crise do país. Os termos mais ouvidos eram bancarrota, espiral recessiva, défice orçamental. Perante este cenário parecia óbvio, para algumas pessoas, que a construção da escola nunca seria uma realidade. E nessa perspetiva fui muitas vezes desencorajado de continuar a lutar pela escola. Entendiam essas pessoas que as deslocações e as reuniões eram uma perda de tempo porque não conduziriam a nenhum resultado positivo. Foi necessário uma grande persistência, muitas horas em viagens, muitas reuniões, em que na parte final a única argumentação consistia apenas na repetição dos argumentos já apresentados. Relembro que em 2011 tivemos eleições legislativas e foi necessário começar tudo do zero, recomeçar todo o périplo de reuniões com os novos responsáveis governamentais. Relembro ainda o apoio que tivemos por parte da Câmara Municipal. Mas, apesar de todas a dificuldades o mais importante é que as novas instalações da ESART são hoje uma realidade e uma obra que enobrece e dignifica a cidade e a região. Temos condições de excelência, a todos os níveis, e o Campus da Talagueira, quando todos os arranjos exteriores estiverem concluídos, vai ser um espaço onde vai ser muito agradável estudar e um espaço de eleição da cidade. Para terminar, gostaria de afirmar que nos dá imensa satisfação poder afirmar que a escola, uma obra pública, foi construída sem qualquer derrapagem financeira. Não foi gasto um cêntimo a mais do que o previsto.

Qual a mensagem que gostaria de deixar aos alunos e à comunidade académica da instituição, bem como à sociedade civil?

À comunidade académica a mensagem é essencialmente um agradecimento, pelo esforço constante no sentido da dignificação da instituição. Têm sido exigidos aos docentes e não docentes, principalmente nos últimos anos, esforços adicionais, no sentido de garantir o normal funcionamento da instituição com muito menos recursos do que há uns tempos. Mas essa é uma realidade que se vai manter durante muito tempo. Dificilmente voltaremos a dispor dos recursos humanos e financeiros de que dispusemos até há uns anos. Há que fazer uma adequação da instituição à realidade e às exigências atuais. À sociedade civil a mensagem que gostaria de deixar é de confiança. Tenho sentido ao longo destes anos que as várias entidades da região têm um grande respeito pela Instituição, que a consideram um referencial, pelo papel que tem desempenhado e por aquilo que representa para o desenvolvimento da região.

 
 
 
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