Primeira Coluna
O Estado da educação
O Conselho
Nacional de Educação (CNE), presidido por David Justino, que já
desempenhou as funções de Ministro da Educação em Portugal, acaba
de publicar o relatório sobre o estado da educação no nosso país. O
documento amplo, rigoroso, que procura analisar e apresentar dados,
mas que também aponta caminhos e ideias para o futuro da
educação no nosso país. O CNE vai mais longe e propõe-se realizar
um ciclo de debates em torno da Lei de Bases do Sistema Educativo,
um diploma já com 30 anos de vigência.
David Justino, na sua nota introdutória daquele documento, aponta
cinco eixos onde considera ser necessária uma clarificação sobre as
opções a tomar a médio e longo prazo, e que na sua perspetiva
correspondem a "pontos de tensão ou bloqueio".
O ex-ministro fala da Educação de infância, tendo
em conta que "nos últimos quinze anos o número de nascimentos
sofreu uma redução de 120 mil para pouco mais de 82 mil,
equivalente a uma quebra de 32%. (...) As regiões de mais baixa
densidade e mais envelhecidas vão ser as mais afetadas
colocando-se, a prazo, um evidente problema de coesão territorial".
Por isso, diz, "é urgente construir uma visão integrada da educação
de infância e conceder a máxima prioridade à qualificação do
serviço de educação, com especial atenção ao ensino pré-escolar e
ao 1º ciclo, canalizando os recursos em excesso para a melhoria das
aprendizagens e para a prevenção do insucesso escolar".
O sucesso escolar como foco principal das políticas
educativas; a condição docente (é
salientado o progressivo envelhecimento do corpo docente,
especialmente na rede pública sob tutela do Ministério da Educação
e Ciência. Em todas as categorias os profissionais com 50 ou mais
anos de idade representam pelo menos um terço do total dos
docentes. As perspetivas para os próximos quinze anos centram-se,
assim, na oportunidade de rejuvenescimento); o Conhecimento
escolar (os últimos trinta anos representam um dos
períodos mais ricos mas também mais complexos dos últimos séculos
em que os processos de mudança económica, social e cultural tendem
a sustentar a imagem da aceleração da história); e Ajustar
as qualificações à estratégia de desenvolvimento do país
(os sistemas nacionais de ensino continuam, especialmente em
sociedades abertas e democráticas, a prosseguir três tipos de
finalidades: educar pessoas na integridade do seu desenvolvimento,
formar cidadãos livres, autónomos e responsáveis e capacitar
futuros profissionais. Os sistemas educativos não se podem limitar
a formar mão-de-obra para o mercado de trabalho, mas não podem
ignorar a importância dessa terceira dimensão), são os restantes
eixos enunciados por David Justino.
A tarefa não será fácil, o caminho a percorrer também não, mas a
meta ou aquilo que se pretende alcançar está identificado numa
caminhada de médio e longo prazo, que como o próprio presidente do
CNE refere exige reflexão e debate. David Justino diz, com razão,
que "em democracia a alternância política não pode significar
errância das políticas (...). Esta exige convergência, visibilidade
e continuidade das opções estratégicas, confiança dos atores
diretamente envolvidos e capacidade para os mobilizar para a
prossecução dos objetivos de médio e longo prazo". A questão é que
muitas políticas educativas mudam sempre que é nomeado um novo
ministro da Educação, com a escola e a sua comunidade, a serem
cometidos a uma tensão que não beneficia ninguém.