35 anos do IPCB
Politécnico avança para a reorganização
O Instituto Politécnico de Castelo
Branco está a assinalar 35 anos de existência. Carlos Maia,
presidente da instituição, diz que o IPCB deve continuar a ser um
referencial de confiança para a região. Em entrevista ao Ensino
Magazine fala também da reorganização do Politécnico e da revisão
estatutária que está em marcha.
Nesta entrevista Carlos Maia
destaca a aposta que está a ser feita na internacionalização e da
necessidade de ser concluído o Campus da Talagueira, com a
construção do bloco central.
35
anos depois, quais é que são os desafios que se colocam ao
Instituto Politécnico de Castelo Branco?
Os desafios passam por o IPCB
continuar a ser um referencial de confiança para a região, para
continuar a desempenhar a função que tem desempenhado até ao
momento, qualificando cidadãos. Deve também estar associado ao
desenvolvimento da região. Cada vez mais, exige-se às instituições
de ensino superior a transferência de conhecimento e inovação para
as empresas. E a instituições como a nossa, que está localizada no
interior do país, tem essa responsabilidade acrescida, não só nessa
área, mas noutras como o acesso à cultura. Há muitas pessoas que
não teriam acesso à cultura se não existisse o IPCB, como também há
muitos cidadãos que se não fosse o nosso instituto não teriam tido
a possibilidade de se formarem. Agora, as dificuldades são cada vez
maiores. Tem havido um conjunto de limitações financeiras que tem
influência no funcionamento da instituição e que se repercute na
sua missão. Dou como exemplo a renovação do corpo docente. A
maioria das instituições tem um corpo docente envelhecido e deveria
existir um plano que permitisse esse rejuvenescimento. A dinâmica
que se exige a uma instituição de ensino superior está ligada às
pessoas que a compõem. Tem que haver uma mescla dos professores
seniores com os docentes mais jovens, com vontade de fazer novos
projetos e de inovar. Pelas indicações financeiras que temos, nos
concursos do IPCB damos prioridade aos cursos que tenham que
responder aos rácios da A3ES.
A
reorganização do IPCB foi já anunciada. Em que fase se encontra
esse processo?
Estamos a trabalhar em
parceria com os presidentes dos conselhos técnico-científicos da
instituição para a tranversalização das áreas científicas. O
objetivo é que as áreas de conhecimento sejam transversais a toda a
instituição. Isto permitirá, por exemplo, que um docente na área da
química possa ministrar aulas nas escolas em que houver unidades
curriculares de química. Esse trabalho está a ser feito e é a
partir dele que se avançará para a revisão estatutária do IPCB. Já
temos quatro áreas identificadas que serão transversais a todo o
IPCB - Línguas e Literaturas Estrangeiras; Matemática e
bioestatística; Informática; e Ciências Empresariais. O intuito é
que a distribuição de docentes para o segundo semestre seja feito
com base nessas quatro áreas. Até ao final do ano pensamos alargar
isso a todas as outras áreas. Só depois partiremos para os aspetos
mais formais, no sentido de definirmos quantos órgãos ficam, ou
como serão determinados os diretores das unidades orgânicas (se por
eleição ou nomeação). Durante o próximo ano teremos este processo
concluído.
Esta
revisão estatutária e reorganização prevê a agregação de
escolas?
Pode levar à agregação de
áreas de conhecimento. É prematuro afirmar-se que poderá levar à
agregação de escolas. O objetivo é a agregação por área de
conhecimento.
Mudando de assunto, qual é o balanço que faz da entrada de
novos alunos para a instituição?
Este ano havia mais
candidatos ao ensino superior, mas o número de colocados não
correspondeu àquilo que era expectável. Felizmente o Instituto
Politécnico de Castelo Branco preencheu mais de 90 por cento das
vagas, com 877 alunos colocados, o que para uma instituição de
ensino superior do interior é muito bom. Contudo, continuo a
defender que o acesso ao ensino superior deveria ser repensado. Faz
sentido que a média do ensino secundário seja valorizada, também
com os exames nacionais, para a nota de candidatura. É mais
consistente considerar todos os momentos de avaliação que um aluno
faz no seu percurso, do que apenas uma prova de duas horas. Este
ano a média dos exames de matemática subiu dois valores, mas os
especialistas já vieram dizer que os alunos não sabem mais que os
do ano anterior. Ou seja esses resultados estiveram relacionado com
o grau de dificuldade do exame. Mas as pessoas não podem estar
dependentes do ano em que nasceram para terem a sorte ou o azar de
fazerem uma prova mais fácil ou mais difícil.
Por isso, penso que continua
a atual a discussão sobre as regras de acesso ao ensino superior. A
demonstração da capacidade para a frequência do ensino superior
deve resultar da combinação da avaliação interna contínua, obtida
ao longo do ano letivo, e da classificação de avaliação externa,
obtida os exames nacionais. Esta combinação constitui uma medida
muito mais consistente para aferir a capacidade do candidato. Esta
é uma discussão que seguramente vai ter que ser
retomada.
E no
que respeita aos CTesp's, a procura correspondeu às
expetativas?
Este foi o primeiro ano em
que colocámos essas provas a concurso. Propusemos 28 cursos, e
desses vão funcionar 20, num total de 274 alunos inscritos. Em
suma, diria que em termos de número de alunos estávamos um pouco
expectantes, porque foi a primeira vez que estas formações foram
oferecidas.
No entanto, continua a ser
premente que se clarifique e de forma inequívoca a diferenciação em
relação aos cursos de especialização tecnológica, porque no quadro
nacional de qualificações ambos conferem o nível cinco.
Uma
das áreas em que o IPCB tem apostado é a internacionalização.
África e Brasil são apostas?
Temos feito um grande esforço
nesse sentido, mas por vezes há aspetos burocráticos que nos
ultrapassam e tornam o processo difícil. Por exemplo, os 10 alunos
de Moçambique que este ano vêm estudar para o IPCB só agora
obtiveram o visto, tendo chegado esta semana (23 de outubro). As
pessoas e as entidades reconhecem a nossa instituição e a sua
importância, mas depois surgem aspetos burocráticos e logísticos
que impossibilitam que a internacionalização se possa efetivar de
uma forma mais célere. Ainda assim este ano correu muito bem no que
respeita à vinda de novos alunos. Recebemos 15 estudantes de Cabo
Verde, 10 de Moçambique, dois de Angola e um do Brasil. Neste
momento temos ainda 80 alunos de Cabo Verde em lista de espera, que
aguardam pelo visto para poderem vir para o IPCB. Já fizemos
deligências junto da Embaixada de Cabo Verde para que a situação
seja ultrapassada. Estamos a apostar na Lusofonia, num processo que
começou há alguns anos, e que agora está a dar frutos.
Estamos muito satisfeitos com
os alunos que recebemos, mas a internacionalização não é só isso.
Temos duas docentes a lecionar na Universidade de Zambeze, em
Moçambique, no mestrado em Construção Sustentável. Há um conjunto
de parcerias que estamos a por em marcha. Temos feito uma aposta no
ensino à distância, através de um protocolo com a Universidade
Aberta. E neste momento este trabalho está a dar o seus
frutos.
Ao
Campus da Talagueira falta o bloco central. A sua construção
continua a ser uma aposta sua?
Em primeiro lugar temos que
esperar pela constituição do novo Governo. Mantenho aquilo que
disse quando inaugurámos a Escola Superior de Artes Aplicadas.
Assim que o novo Governo tomar posse envidarei todos os
esforços para que o Campus da Talagueira venha a ser construído.
Sei que não vai ser fácil, mas também não era fácil construir a
nova ESART, o Centro de Investigação em Zoonoses ou o Centro de
Biotecnologia de Plantas, e essas infraestruturas estão aí. Nada é
fácil. Compete-nos a nós demonstrar essa necessidade. Enquanto não
estiver excluída essa hipótese, voltarei a insistir nesse
investimento, o qual será pago em muitos poucos anos. Se nós
conseguirmos localizar no Campus da Talagueira a maioria das
escolas e os serviços, teremos uma poupança de recursos. A Escola
Superior Agrária nunca sairá de onde está, mas a ESE poderia ir
para o Campus da Talagueira.
E as
atuais instalações da ESE seriam utilizadas de outra
forma?
Essas instalações estão num
espaço nobre da cidade e poderiam ser utilizadas de várias formas.
Os próprios serviços centrais poderiam ir para lá.
Em
matéria de oferta formativa, para 2016 vai ser apresentado algum
novo curso?
Submetemos à Agência de
Avaliação e Acreditação uma nova licenciatura para a Escola
Superior de Tecnologia, em Sistemas Inteligentes.
Recentemente o IPCB reuniu entidades, empresas e
personalidades da região para discutirem o politécnico. Já há
conclusões desse estudo?
Esse estudo vem na sequência
de um outro sobre o impacto do Politécnico na Região. O encontro
foi muito proveitoso, os relatos são muito interessantes, e neste
momento estão a ser analisados. Este estudo vai ser muito
importante para a reorganização da instituição.