Suplemento

Carlos Maia, presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco
Reorganização do IPCB está em marcha

 

IMG1171.JPGO Instituto Politécnico de Castelo Branco está a assinalar 36 anos de vida. Uma data que será assinalada em vários momentos ao longo do próximo ano e que terá início com um espetáculo que junta o grupo GNR e a Orquestra Sinfónica da Escola Superior de Artes Aplicadas. Carlos Maia, presidente da instituição, fala dos desafios que se colocam, do número de alunos colocados, dos estudantes internacionais e da reorganização que está em curso dentro do IPCB. De caminho, assegura que é uma questão de tempo os politécnicos atribuírem o grau de doutoramento.
O IPCB está a iniciar o novo ano letivo com mais alunos matriculados que no ano passado?
Nós lutamos constantemente para que o número de alunos a estudar no politécnico seja maior. Este ano, após as duas primeiras fases do concurso nacional temos mais alunos matriculados do que no ano passado depois das três fases do Concurso Nacional de Acesso. Brevemente teremos conhecimento dos colocados na 3ª fase (a entrevista foi realizada a 12 de outubro) e além disso temos os concursos especiais. A nossa projeção é que fiquemos com uma taxa de ocupação muito semelhante à do ano passado, ou seja com cerca de 96 por cento das vagas preenchidas. Isso deixa-nos, de alguma forma satisfeitos, mas ao longo do ano trabalhamos para que mais alunos venham para o IPCB.
Ainda assim, no IPCB, à semelhança de outras instituições do interior do país, houve menos procura…
Em termos colocados sim, mas no que respeita a matrículas, estamos no terceiro ano consecutivo a ter mais alunos pelo concurso nacional. E são os alunos que se matriculam que interessam à instituição e que cá fazem os seus cursos. Este aumento deve-se ao trabalho de todos.
Esta questão de haver menos alunos colocados nas instituições do interior do país merece uma reflexão pela tutela, até porque este ano houve mais alunos candidatos. Este é um problema antigo, enquanto houver vagas a abrir no litoral são menos alunos que vêm para o interior do país.
Tem havido falta de coragem política para mexer nesta questão?
Enquanto não houver uma política de ensino superior nesta matéria, por muito boa vontade que as instituições tenham, é muito complicado. Tem que haver um debate sobre para onde o ensino superior deve caminhar. Se devemos manter o sistema binário, que eu defendo, ou o unitário, pela missão de cada um. A partir daí é que poderemos avançar para a discussão do resto. De facto tem havido uma canibalização dos politécnicos pelas universidades e vice-versa. As universidades aproximaram-se dos politécnicos pelo aumento da empregabilidade, pois o saber fazer ganhou uma relevância grande na nossa sociedade. E os politécnicos aproximaram-se dos cursos ministrados pelas universidades porque o prestígio social ainda tem alguma relevância na escolha dos alunos. Portanto numa altura em que há uma competição na captação de alunos, verifica-se esta aproximação que é prejudicial ao sistema.
O problema existe e não é exclusivo de nenhuma instituição em particular. É a qualificação dos cidadãos que está em causa. Portugal tem metas para alcançar. Estamos aquém das médias da união europeia e da OCDE. O país comprometeu-se em ter, até 2020, 40% das pessoas, entre os 30 e os 44 anos, com formação superior. Neste momento não chegamos a 30%. É disto que estamos a falar, da qualificação das pessoas. O ensino superior não é um fim, mas um meio. Um meio para qualificar pessoas, para proporcionar melhorarias à sociedade e melhor qualidade de vida.
Infelizmente, esta é uma questão que se anda a adiar há muito tempo e nos vários governos. A pior coisa que pode acontecer é fingir que o problema não existe.
Uma das apostas do IPCB tem sido a vinda de alunos internacionais. Este ano registou-se um aumento nessa matéria?
Tem havido um forte investimento na captação desses alunos. Fizemos deslocações a alguns países e essa aposta está a ter os seus efeitos.  Neste momento temos 76 alunos internacionais já inscritos e há um número igual que ainda não veio por causa de não lhes terem sido atribuídos os vistos. A virem esses alunos ficaremos com cerca de 140 alunos. De qualquer modo, não posso deixar de lamentar que após ter alertado alguns responsáveis desses países, como Cabo Verde, que muitos alunos estejam impossibilitados de prosseguir os estudos superiores em Portugal devido às dificuldades que a Embaixada Portuguesa está a criar. Haverá requisitos para cumprir, mas não se percebe porque é que alguns conseguem e outros, em circunstâncias iguais, não conseguem.
Nos últimos anos tem havido uma diminuição da procura nos cursos mais tecnológicos e de engenharia. Corre-se o risco dos politécnicos perderem essas valências?
As áreas tecnológicas, pela escassez de procura, correm o risco de desaparecerem do subsistema politécnico dentro de alguns anos. Nas engenharias, muito a partir do momento em que passaram a ser exigidas as disciplinas de matemática e física para acesso a essas formações, houve muitos cursos que foram encerrados, precisamente pela falta de procura. No IPCB existe a convicção forte que essas áreas são muito importantes para o futuro do país, pelo que temos feito tudo o que está ao nosso alcance para manter esses cursos. Inclusivamente criámos incentivos, atribuindo bolsas iguais aos valores das propinas para que os alunos procurem essas áreas. Mas isto não poderá ser eterno. Se não houver uma inversão nesta matéria, Portugal dentro de alguns anos vai ter que importar engenheiros e técnicos superiores nessas áreas, quando tem capacidade instalada para os formar.
Os politécnicos defendem também que devem passar a atribuir o grau de doutoramento. Acredita que isso será possível a curto ou médio prazo?
Será uma questão de tempo. Temos tido várias reuniões com diferentes responsáveis. E não há nenhum que nos apresente um argumento válido para que isso não se concretize. Aquilo que os politécnicos reclamam é, nalgumas áreas em que temos condições para isso - e não queremos qualquer tipo de facilidades -, uma avaliação justa para que possamos atribuir esse grau. Os únicos critérios que devem condicionar a atribuição desse grau devem ser de cariz pedagógico e científico. Não podem ser outros, pois caso contrário vamos para o campo do preconceito. Existe em Portugal a situação caricata de nas áreas artística e das ciências da saúde, os doutoramentos serem lecionados exclusivamente  por docentes do ensino politécnico mas terem que decorrer em instalações de universidades pois são elas que podem outorgar esse grau. Ou seja, as universidades vêm contratar docentes aos politécnicos para ministrarem os seus doutoramentos. Isto só se pode chamar preconceito.
No caso do Politécnico de Castelo Branco quais eram as áreas em que poderiam abrir doutoramentos?
Teremos que fazer uma análise, mas em algumas áreas das escolas de saúde e das artes poderíamos avançar. Por outro lado, as escolas mais antigas têm um corpo docente mais qualificado e sempre fizeram muita produção científica. Há várias áreas em que estamos em condições para conferir esse grau. Mas há outra questão que me parece fundamental, que são as parcerias entre as instituições para atribuir esse grau, aproveitando o que há melhor em cada uma.
O IPCB está a ser reorganizado. Em que fase está esse processo?
Estamos a cumprir as etapas todas. Foi apresentado o trabalho feito em todas as unidades orgânicas e no Conselho Geral, pelo que aguardamos uma validação da afetação das unidades curriculares a áreas científicas. E depois iremos continuar com esta discussão, num processo que queremos que venha a ser participado por todos, para apresentarmos uma proposta. O que tem sido discutido é que haja uma transversalização nas áreas do conhecimento. Neste momento estamos a funcionar com seis escolas, num sistema vertical. O que queremos é que cada área de conhecimento consiga alimentar os cursos de todas as escolas.
O IPCB está a assinalar 36 anos e vai realizar 36 iniciativas…
É isso que está definido. O Politécnico de Castelo Branco é uma instituição madura, que tem os seus desafios. Decidimos comemorar esta data com a cerimónia institucional e ao longo de um ano iremos desenvolver atividades, propostas por cada uma das unidades orgânicas e pela presidência, para a nossa comunidade, a cidade e a região. O objetivo é envolver o máximo de estruturas e entidades. A primeira será o concerto da Orquestra Sinfónica da ESART - que é a única do interior do país - com o grupo GNR, que está a assinalar 35 anos. É uma pretensão antiga e dia 19 de novembro iremos realizar esse espetáculo no Cine Teatro Avenida.
 
 
 
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