Carlos Maia, presidente do IPCB
IPCB tem impacto de 42 milhões para a região
Carlos Maia, preside ao Instituto
Politécnico desde há cerca de oito anos. Em entrevista ao Ensino
Magazine explica o percurso da instituição e aponta caminhos para o
futuro.
O IPCB está a assinalar o seu 37º aniversário. Como é que
avalia este percurso e, em particular, os últimos oito anos em que
preside à instituição?
O percurso do IPCB é conhecido e é reconhecido por todos que a
cidade e a região seriam muito diferentes se não fosse a presença
do IPCB, que é hoje uma instituição consolidada, respeitada, com um
papel fundamental no desenvolvimento da região, que tem permitido
qualificar milhares de cidadãos, alguns dos quais não teriam tido
essa oportunidade se não existisse uma instituição de ensino
superior na região.
O impacto de natureza económica e social resultante do
funcionamento do IPCB é também bastante significativo, como
demonstrou o estudo realizado pela Universidade do Minho e do Porto
que teve como objetivo quantificar o impacto das atividades do IPCB
na comunidade envolvente. Ficou demonstrado que anualmente o IPCB
tem um impacto de cerca de 42 milhões de euros na economia local,
para além de por cada euro investido haver um retorno de cerca de 3
euros. Não se conhece nenhum investimento público na nossa região
com igual retorno. Além disso, toda a dinâmica de que a região
beneficia resultante das atividades de investigação e de criação
cultural, as atividades de extensão à comunidade, a valorização
económica e social do conhecimento, por parte das escolas do IPCB,
reforça o papel da instituição como motor de desenvolvimento.
O IPCB tem sabido captar jovens para a
região…
Há ainda a salientar esse outro aspeto fundamental, que é o facto
de o IPCB ser a única fonte de atração de jovens para a nossa
região, que é globalmente uma região envelhecida. A atração de
jovens e a criação de emprego são os únicos mecanismos capazes de
travar o despovoamento do interior. O IPCB tem conseguido atrair
jovens, fruto do prestígio e da qualidade reconhecida à
instituição. Estudam neste momento no IPCB jovens de todos os
distritos de Portugal continental e ilhas, alunos de 38 países, de
4 continentes. Temos alunos da Europa, de África, da Ásia e da
América, só não temos alunos da Oceania. Portanto, o IPCB, apesar
das contínuas reduções de orçamento ao longo destes anos, tem feito
o que lhe compete, que é atrair jovens para aqui fazerem a sua
formação e qualificação. Falta o poder político proporcionar
condições para a criação de emprego qualificado na nossa região de
modo a fixar os jovens que escolhem o IPCB para fazer a sua
formação superior, mas que depois vão à procura de emprego noutras
regiões.
Tem sido para mim extremamente gratificante presidir ao IPCB desde
2009, durante um período particularmente difícil que o país viveu e
continua a viver, mas entendo que essa avaliação do período em que
presido à instituição deverá ser efetuada pelos órgãos do IPCB, por
cada membro da comunidade académica e pelos cidadãos.
Quais os desafios que no seu entender se colocam à
instituição num futuro próximo?
Em primeiro lugar, e porque tem afetado o normal funcionamento da
instituição, saliento os desafios colocados pela contínua redução
do orçamento, que têm obrigado à alteração de alguns procedimentos.
As restrições ao financiamento público das instituições de ensino
superior, com uma contínua e acentuada redução das transferências
do orçamento de estado têm gerado dificuldades estruturais no
funcionamento do IPCB e na concretização da estratégia
institucional. Por outro lado, a captação de alunos constituirá
sempre um desafio presente, tanto mais que se prevê uma quebra da
procura a partir de 2019 e até 2030. A qualificação do corpo
docente é outro desafio constante. Verificou-se nos últimos anos
uma evolução bastante significativa na qualificação do corpo
docente do IPCB. Em 2009 o IPCB tinha 24% do seu corpo docente
doutorado, e em outubro de 2017 tem 70%. E é justo salientar esta
evolução porque uma parte significativa dos docentes do IPCB
concluiu os seus programas de doutoramento mantendo grande parte
das atividades letivas, de investigação e de extensão à comunidade.
Mas apesar desta evolução a procura da melhoria deve ser contínua,
porque a qualificação do corpo docente é uma garantia da qualidade
das atividades da instituição a todos os níveis.
Para além destes desafios há outros que queira
destacar?
Temos outro desafio que é transversal e que deve ser uma
preocupação constante em qualquer instituição de ensino superior,
que é a necessidade constante de nos repensarmos. E aqui refiro-me
essencialmente a dois aspetos. Um mais interno, que se divide em
duas dimensões. A primeira relacionada com a análise da
racionalidade científica e pedagógica dos cursos disponibilizados,
da oferta formativa e a sua adequação ao que a sociedade necessita,
as competências para as quais visa preparar, a adequação do corpo
docente, isto é, o IPCB deve manter a preocupação de promover
cursos que respondam às necessidades do tecido socioeconómico e
evitar promover ofertas formativas para resolver problemas internos
da instituição. O reforço na formação a distância deve também
continuar como uma forte aposta. A segunda dimensão tem a ver com a
reflexão sobre a reorganização da instituição, beneficiando das
especificidades e experiências de cada unidade orgânica e serviços,
de modo a ser possível garantir uma maior eficiência e eficácia na
utilização dos recursos. Essa reflexão já se iniciou, há mais dois
anos, com um conjunto de reuniões de trabalho entre a presidência e
os presidentes dos conselhos técnico-científicos das escolas e com
sessões nas várias escolas. É necessário na minha perspetiva
dar-lhe continuidade, auscultando os vários stakeholders. Um aspeto
mais externo é a necessidade de continuarmos a profundar as
parcerias com outras instituições de ensino superior nacionais e
internacionais no sentido de nos consolidarmos e reforçarmos a
massa crítica em algumas áreas, nomeadamente nas mais recentes,
para assim se reforçar a investigação científica e a capacidade de
disponibilizar oferta formativa pós-graduada.
O IPCB aumentou o número de alunos, até onde pode crescer o
Politécnico, sabendo que a demografia não é favorável? A haver
crescimento isso pode ser feito através de alunos
estrangeiros?
Desde 2013 que o IPCB tem aumentado ano após ano o número global de
alunos que entra na instituição pela primeira vez. Este ano,
finalizadas todas as matrículas entrarão no IPCB mais de 1400 novos
alunos. No entanto, as projeções demográficas não são favoráveis e
esse é o problema mais grave que Portugal enfrenta. Prevê-se que a
partir de 2019 e até 2030 se verifique uma quebra de alunos a
ingressar nos politécnicos e nas universidades da ordem dos 2,4% ao
ano. É um valor muito elevado e é evidente que as primeiras
instituições que irão sentir esse decréscimo serão as do interior,
tanto mais que a distribuição das vagas do ensino superior público
é completamente assimétrica. Mais de 53% das vagas disponibilizadas
no concurso nacional de acesso ao ensino superior dizem respeito a
instituições que estão localizadas em Lisboa, Porto e Coimbra, ou
seja, três cidades do nosso país têm mais de metade das vagas. A
faixa do interior entre Bragança e Beja tem apenas 13% do total das
vagas do ensino superior em Portugal, enquanto no litoral se
encontra mais de 80% e essa é uma realidade que se aplica também a
outros setores da sociedade.
O que é preocupante é que encaramos isso como uma inevitabilidade,
como se não pudesse ser de outra maneira. Espera-se dos governantes
a implementação de medidas promotoras do desenvolvimento harmónico
do país, da sustentabilidade territorial e da coesão social, mas
não é isso a que temos assistido e com toda a franqueza, não
acredito que essas medidas alguma vez venham a ser implementadas.
Já vários governos, de diversos quadrantes políticos, tiveram
oportunidade para o fazer e temos assistido a uma grande
incapacidade. Uma instituição como o Politécnico de Castelo Branco
não pode centrar a sua estratégia de captação de alunos apenas numa
única medida, mas os alunos estrangeiros devem continuar a ser um
alvo. Os alunos estrangeiros são sempre bem-vindos e temos apostado
na captação de alunos de vários partes do mundo. Neste momento
estudam no IPCB alunos oriundos de 4 continentes, de 38 países,
como já referi.
Ainda há uma quantidade significativa de alunos que
terminam o secundário e não prosseguem para o ensino o superior, de
que forma será possível que mais jovens entrem no
superior?
Demonstrando as vantagens aos jovens. Com o aumento do desemprego
em Portugal assistiu-se a uma crescente desvalorização social da
titularidade de um curso superior. A crise levou muitas famílias a
considerar que o investimento na formação escolar e na qualificação
profissional não constituía uma mais-valia nem uma vantagem
competitiva para ingressar no mercado de trabalho. Mas tal como nos
outros países da OCDE, também em Portugal a titularidade de um
curso superior reduz o risco de desemprego, aumenta a remuneração
auferida e a possibilidade de ascensão social. O retorno da
educação superior em Portugal está entre os mais altos da OCDE. E
essas vantagens têm que ser transmitidas aos jovens. Este ano houve
mais candidatos ao ensino superior e além disso há que captar
também os alunos do ensino profissional, que já representam 45% dos
alunos que concluem o ensino secundário. Temos uma meta para
atingir no âmbito do Horizonte 2020 que aponta no sentido de 40%
dos cidadãos na faixa etária entre os 30 e os 34 anos deverem ser
titulares de um diploma superior e em 2017 ainda só temos cerca de
32%.
Este ano foi assinado um acordo entre o Ccisp e entidades
de Macau, para a vinda de alunos para Portugal. Com este acordo o
que vai mudar? O que pode o IPCB beneficiar?
Sim, o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos
assinou com o Gabinete de Apoio ao Ensino Superior de Macau um
acordo, onde ficou expresso que passa a ser possível aos alunos de
Macau utilizarem os resultados do exame unificado de acesso às
Instituições do Ensino Superior de Macau, para se candidatarem aos
politécnicos portugueses. O resultado que se espera é o aumento do
número de alunos que procura o IPCB.
Qual a mensagem que quer deixar à comunidade académica e
científica?
Quero essencialmente deixar um agradecimento especial pela forma
como todos têm dado o seu melhor em prol do Instituto Politécnico
de Castelo Branco, pelo empenho e dedicação, num período muito
difícil, em que tem sido necessário a compreensão e a adaptação a
medidas de contenção duras, que foi necessário implementar.