Entrevista

Pedro Sousa, coordenador de conteúdos do canal 11
«Com o VAR, o futebol ganhou em verdade e justiça»

pedros2.jpgApresenta "Futebol Total" no canal que quer fazer diferente da concorrência. Pedro Sousa afirma que atrair os jovens para a prática desportiva é o principal objetivo do 11.

Apresenta «Futebol Total», de segunda a quarta-feira. Este programa representa uma nova filosofia de debater sobre futebol?
Não é nova, mas é a filosofia deste canal, os princípios que presidiram à sua criação e aquilo que queremos fazer, que é necessariamente diferente. Muitos dos profissionais que vieram para o canal 11 já faziam televisão e queriam experimentar coisas diferentes. Mas o mas importante não é saber se fazemos melhor ou pior, o importante é que fazemos diferente e que há caminho para fazer diferente.

A abordagem que é feita pretende um futebol em estado mais puro?
Para mim, futebol é futebol. Mas reconheço que tentamos falar de aspetos que estão diretamente relacionados com o jogo, com os jogadores, com os treinadores e menos com os aspetos laterais que nada têm a ver com o futebol e que se relacionam mais com a justiça, a política, etc.

O painel de comentadores é composto por ex-jogadores, treinadores e jornalistas. Qual o critério para a seleção?
Temos uma bolsa de 11 ou 12 elementos e todas as noites vamos rodando. A intenção era que o painel fosse o mais homogéneo possível, mas que também tivesse gente desconhecida do público. Ou seja, que não tendo um passado de visibilidade, têm um passado ligado ao futebol e isso para nós é muito importante. Também temos figuras reconhecidas na opinião publica, casos do João Marcelino, que foi diretor do «Record», do «Diário de Notícias» e do «Correio da Manhã» - e que considero um dos jornalistas mais destacados da vida democrática portuguesa - do próprio Toni, do Maniche ou do António Carraça.

Qual a razão para o programa ser transmitido apenas três vezes por semana?
Entendemos, aquando do desenho da grelha que fizemos da programação, que era este formato que fazia sentido, mas no futuro logo se verá. Em televisão as coisas evoluem muito rapidamente. Mas para já os dias escolhidos foram a segunda-feira, por ser o dia de rescaldo do fim de semana futebolístico, e a terça e a quarta-feira porque há quase sempre jogos da Liga dos Campeões ou das seleções nacionais.

Os programas da concorrência, nomeadamente à segunda-feira, em que é promovida a guerra dialética, têm os dias contados ou vieram para ficar?
Não acho nada que tenham os dias contados. Basta, aliás, olhar para as audiências. Faz lembrar quando as pessoas publicamente juravam não ouvir o Marco Paulo, mas era o que vendia mais discos. Não sei se esta é a melhor analogia, mas penso que dá para contextualizar a resposta à sua pergunta. Estou em crer que há caminho para todos. Admito que a segunda-feira seja um dia mais difícil para nós, mas também acho que é um grande desafio e há uma janela de oportunidade.

Porquê?
Na medida em que estamos a fazer diferente e a concorrência está num registo completamente distinto do nosso.

É frequente ver em cafés ou restaurantes os televisores sintonizados no canal 11. Sente essa boa aceitação de um canal apenas com dois meses de vida?
Sentimos isso, cada vez mais. Mas não nos sentimos pressionados para que o feed back seja logo muito grande. Isto é um processo que é lento e leva tempo. No momento em que falamos (NDR: 18 horas), estamos a transmitir um jogo de futsal entre seleções femininas, que é algo impossível ver noutros canais, o que não deixa de ser surpreendente para todos os que nos sintonizam. E há publico para estes conteúdos, porque as pessoas gostam.

O canal é da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) - uma organização que respira saúde financeira - e recebeu, ao nível das instalações, o financiamento da UEFA. Este contexto favorável faz com que as audiências não sejam uma preocupação prioritária?
Ninguém trabalha para aquecer. Vemos as audiências todos os dias e sabemos os conteúdos que temos de melhorar em função daquilo que as pessoas gostam de ver. Estreámos o canal a 1 de agosto por coincidir com o início da época futebolística, mas é sabido que esse mês é por tradição o de menor consumo televisivo para todos os canais que estão no mercado. Mas, permita-me que insista, a frase chave é a seguinte: isto é um caminho. Não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona.

O acompanhamento das seleções nacionais (em futebol e futsal) é um ponto forte ou não fosse o canal da FPF?
Não sei se as pessoas têm a noção do seguinte: há 25 seleções nacionais. Não temos possibilidade de transmitir os jogos da seleção principal porque estão vendidos ao canal público em sinal aberto e porque têm de estar na TDT. Sobram 24. Por isso, há muito futebol para transmitir, só de seleções. Homens, mulheres, meninos e meninas. E precisamente porque este canal se fez para que existissem mais praticantes, nomeadamente de futebol. Quero destacar o sucesso da Liga Revelação, que é uma das âncoras deste canal e que já vai no segundo ano, e veja-se os jogadores e treinadores que já alcançaram os escalões principais ou que já emigraram. A este propósito, temos também a obrigação de mostrar os portugueses que andam pelo mundo. E sempre que há essa oportunidade mostramos partidas de jogadores ou treinadores portugueses. O caso do Flamengo do Jorge Jesus, o Olympiakos do Pedro Martins, o Almeria do Pedro Emanuel, e por aí adiante.

Esteve mais de duas décadas na Rádio Renascença onde narrou centenas de jogos. É uma paixão que ainda se mantém?
A narração de jogos nasceu para mim ainda eu era muito miúdo, nem pensava em ser jornalista. Eu deixei de ser jornalista em 2011. Abandonei a narração na rádio há 8 ou 9 anos e nunca mais fiz nenhum jogo e não quero fazer. Não quero arrastar--me e quero que as pessoas fiquem com a última impressão do meu trabalho. Narrar jogos na rádio é muito exigente do ponto de vista físico - embora não pareça. Foi um capítulo encerrado. Mas na televisão continuarei a fazê-lo, até porque é algo que me dá gozo.  Se na rádio ou na televisão, um cego disser que consegue "ver" um jogo com a minha narração, sinto-me realizado.

Desde junho apresenta uma rubrica na também recente rádio Observador, que se chama «Vamos à bola». Como foi este seu regresso às "ondas do éter"?
São dois ou três minutos diários sobre a atualidade futebolística. Foi um convite feito por pessoas de quem sou amigo e identifico-me com este projeto que, tal como o 11, também é novo. E como também existem vasos comunicantes entre a rádio e a televisão por serem serviços complementares, achei que seria uma boa oportunidade.

Falemos agora da introdução das novas tecnologias no futebol. Com o VAR, o futebol ganhou em pragmatismo e em verdade desportiva o que perdeu em emoção?
O que é que é emoção? É terminar um jogo e sentir que houve um erro grave com influência no resultado? É emoção para quem ganha ou para quem perde?
O futebol ganhou em verdade e em justiça. Tudo o que seja para salvaguardar a verdade é bem vindo. Serei sempre um acérrimo defensor das novas tecnologias, como já era no râguebi, na NBA ou no futebol americano. Como acontece com o crescimento de uma criança, o VAR está a dar os primeiros passos.

Há algumas semanas o canal 11 e a FPF lançaram um movimento chamado «Deixa Jogar», para fomentar o fair play dentro e fora das quatro linhas. Como explica o grande impacto alcançado pela campanha?
A campanha é fabulosa e chamou a atenção das pessoas, tendo sido bastante partilhada por todos os órgãos de comunicação social. E teve êxito porque se dirige a promover bons valores e as boas práticas, o fair play e erradicar algumas mensagens e comportamentos que não se coadunam. Nesse sentido, acho que a campanha faz parte de todos, mas agora cabe-nos a todos dar o exemplo.

O 11 pretende ter uma relação próxima com as escolas?
Sempre. Desde o primeiro dia do lançamento do canal que as escolas e os miúdos foram muito importantes para o 11. Pelos relvados da Cidade do Futebol, paredes-meias com as instalações do 11, passaram centenas de miúdos. Temos feito muitas reportagens envolvendo escolas e até sobre o comportamento dos pais quando estão a assistir aos jogos dos filhos, etc. E assim vamos continuar, porque não podemos perder praticantes no futebol. Queremos ganhá-los. Vivemos numa época em que a atração pelos jogos de computador, os telemóveis e o YouTube concorre diretamente com a prática desportiva. Os meninos e as meninas têm de continuar a ter o mesmo gosto pela prática desportiva e pelo treino. Por isso, o canal 11 está aqui por eles, pelos jovens.

 

CARA DA NOTÍCIA

Um dos melhores narradores da sua geração

Enquanto prepara o seu «Futebol Total», Pedro Sousa recebe-nos na Cidade do Futebol, em Oeiras, o quartel-general da FPF e das seleções nacionais, precisamente no dia em que se cumprem dois meses do início das emissões do 11.
Durante 23 anos foi jornalista e responsável da editoria de desporto da Rádio Renascença, após o abandono de Ribeiro Cristóvão. Para além de apresentar o mítico programa «Bola Branca», fez centenas de relatos de jogos nacionais e internacionais. Em 2011 deixa o jornalismo e assume o cargo de diretor de comunicação do Sporting Clube de Portugal, durante a presidência de Godinho Lopes, tendo sido afastado aquando da chegada de Bruno de Carvalho. Mais recentemente foi comentador de futebol na TVI e TVI 24 e colaborou com a Sport TV na narração de jogos. Pedro Sousa é o coordenador de conteúdos da televisão da FPF, onde apresenta, de segunda a quarta-feira, às 22 horas, o programa «Futebol Total» e realiza, pontualmente, a narração de algumas partidas transmitidas pelo canal.

Nuno Dias da Silva
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