António Fernandes, presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco
‘IPCB foi das instituições mais procuradas a nível internacional’
O Instituto
Politécnico de Castelo Branco está a assinalar 39 anos de vida.
António Fernandes, o seu presidente, destaca a importância da
instituição, faz um balanço positivo da entrada de novos alunos no
IPCB e aborda o futuro. Em entrevista, fala da reorganização do
politécnico e do facto de ser uma das instituições de ensino
superior portuguesas com mais procura a nível internacional.
Neste momento já são conhecidos os novos alunos que o IPCB
acolheu para este ano letivo, fruto do Concurso Nacional de Acesso
e dos regimes especiais. Qual o balanço que faz?
Faço um balanço muito positivo. Concluídas as matrículas relativas
a todas as fases de candidatura ao ensino superior para o ano
letivo de 2019/20, encontram--se matriculados nos cursos de
licenciatura 1178 novos estudantes, mais 178 que no ano letivo
anterior. Sendo 562 provenientes do concurso nacional de acesso
(CNA), 65 do concurso local e 551 vindos de outros regimes. Pelo
sexto ano consecutivo verificamos um aumento do número de
estudantes que ingressaram no IPCB. Comparativamente com o ano
letivo anterior aumentámos 17,8% o número de estudantes
matriculados nas licenciaturas, o que é, de facto, notável.
Quanto aos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP)
matricularam-se 234 novos alunos estando ainda a decorrer a
terceira fase de candidaturas para alguns cursos com vagas
sobrantes. Nos Mestrados encontram-se já matriculados 227 novos
estudantes, resultantes da 1ª fase de candidatura, tendo na segunda
fase sido colocados 15 novos estudantes dos mestrados.
Há ainda a considerar as Pós- -graduações de ensino a distância em
parceria com a Universidade Aberta, com a pós-graduação de Sistemas
de Informação Geográfica (11 estudantes), pós-graduação em Proteção
Civil (31 estudantes) e pós-graduação em Gestão de Negócios (43
estudantes). Temos ainda 22 novos estudantes do Instituto
Politécnico de Macau (IPM) que se encontram a frequentar a Escola
Superior de Educação e integram uma turma do segundo ano da
licenciatura em Português.
Considerando todas as ofertas formativas, entraram no IPCB no
presente ano letivo 1746 novos estudantes.
Em termos de estudantes internacionais, o Politécnico
registou um número recorde de procura e de inscrições. A que é que
se deve essa evolução positiva?
Quanto a estudantes internacionais interessados em ingressar no
IPCB tivemos uma procura muitíssimo elevada, com 1507 candidatos
(934 e 573, na 1ª e 2ª fase, respetivamente). Estes candidatos
foram seriados e encontram-se matriculados 337 novos estudantes
internacionais que correspondem à capacidade da Instituição em
acomodar estudantes internacionais. Representa um aumento
significativo em relação a anos anteriores (230 novos estudantes em
2018 e 151 novos estudantes em 2017).
Os resultados são francamente animadores e colocam o IPCB nos
lugares cimeiros das Instituições de Ensino Superior Portuguesas
com maior procura a nível internacional. A evolução é certamente o
resultado do trabalho que temos feito ao nível da divulgação
internacional do IPCB. A vinda de parte dos estudantes
internacionais enquadra-se na estratégia de internacionalização da
instituição que tem por base o estabelecimento de protocolos de
cooperação com entidades internacionais, onde definimos condições
especificas para a permanência dos estudantes bem como os apoios
concedidos. Outros estudantes procuram a nossa instituição por
autoiniciativa. É o atual contexto de internacionalização que o
ensino superior de Portugal está presentemente a atravessar e onde
o IPCB assume a sua quota parte de responsabilidade.
Esse é um número que o deixa satisfeito, ou há margem para
crescer mais?
É um número que tenderá a estabilizar. Como referi, este ano,
chegámos ao limite em termos daquilo que é a nossa capacidade de
acomodação de estudantes internacionais, no cumprimento das regras
impostas pela tutela. Tudo indica que é um número com o qual o IPCB
passará a viver.
Um dos desafios que se colocam aos novos alunos, sobretudo
aos que vêm de outros países, é o alojamento. Castelo Branco e
Idanha-a-Nova têm conseguido dar resposta através da iniciativa
privada?
A questão do alojamento é, de facto, um desafio que se coloca aos
novos estudantes, não só aos estudantes internacionais. Também aos
estudantes nacionais. E é responsabilidade do Estado garantir a
existência de um sistema de ação social, designadamente através das
instituições de ensino superior e dos seus serviços, vocacionado
para assegurar as funções da ação social escolar, particularmente o
alojamento. A situação de especial escassez de oferta de alojamento
para estudantes do ensino superior exige uma resposta institucional
e, por esse motivo, perante a dificuldade atual de, em particular
os estudantes internacionais conseguirem alojamento na cidade de
Castelo Branco, a instituição reforçou a ação social através da
assinatura de um contrato de prestação de serviços de ação social
com uma empresa do sector que vai disponibilizar ao IPCB serviços
para o alojamento de estudantes em 14 quartos duplos, com
utilização das áreas comuns dos apartamentos, sob condições
especificas de utilização.
E as
residências do IPCB são suficientes?
A percentagem de estudantes bolseiros que frequentam o IPCB tem
sido, nos anos letivos anteriores, superior à percentagem média de
estudantes bolseiros a frequentar o ensino superior em Portugal.
Destes dados conclui-se que uma parte significativa dos estudantes
do IPCB são oriundos de extratos sociais desfavorecidos o que
obriga a um grande empenho da Instituição em ações que visem
implementar e garantir respostas adequadas aos alunos mais
carenciados, promovendo a igualdade de oportunidades, o sucesso e a
completa integração dos estudantes. Podemos dizer que as cerca de
418 camas disponibilizadas nas residências do IPCB não são
suficientes, registando-se uma taxa de cobertura baixa, onde menos
10% dos estudantes conseguem alojamento nas residências da
Instituição.
Para além do alojamento mantemos preocupação com a alimentação dos
estudantes razão pela qual desde o início deste ano letivo temos em
funcionamento um refeitório ao fim de semana, com horário
alargado.
Mudando de assunto. Uma das suas apostas para o
Politécnico passa pela sua reorganização. De que forma é que isso
pode ser feito?
Considero que a reestruturação organizacional do Politécnico é
absolutamente necessária. Apresentei ao Conselho Geral do IPCB, em
reunião realizada no passado dia 18 de setembro, uma proposta de
reestruturação organizacional elaborada por uma equipa de trabalho
coordenada por mim e constituída pelo vice-presidente do IPCB e por
mais 6 docentes das 6 Escolas da Instituição. A equipa iniciou os
trabalhos procedendo à análise do diagnóstico institucional no
contexto da procura que temos tido, das questões orçamentais e da
atual organização cientifico-pedagógica. Posteriormente definiu a
metodologia conducente à elaboração da proposta. Após uma primeira
reflexão sobre cenários possíveis para a reestruturação
organizacional, o trabalho desenvolvido foi apresentado
conjuntamente aos diretores das Escolas e aos presidentes dos
Conselhos Técnico-científicos e depois foi apresentado aos
elementos do Conselho Coordenador da Investigação (CCI) do IPCB.
Foram ainda realizadas sessões em cada uma das 6 Escolas perante
toda a comunidade académica. Nessas sessões solicitámos contributos
à comunidade académica.
Na proposta de reestruturação organizacional apresentada ao
Conselho Geral, indiquei um dos cenários contemplados no documento
como o cenário mais adequado e disponibilizei-me para apresentar os
próximos passos que visam a sua operacionalização. A proposta de
reestruturação organizacional teve um acolhimento positivo e
suscitou um debate abrangente e profícuo, onde os conselheiros
reconheceram a necessidade de promover a reestruturação
organizacional do IPCB. Os conselheiros formularam sugestões para
esses próximos passos e recomendaram que diligencie para que se
proceda ao aprofundamento e consolidação da proposta de
reestruturação, beneficiando dos contributos do debate promovido no
Conselho.
Essa reorganização implica a alteração na designação das
escolas?
A proposta apresentada propõe a constituição de nove
Departamentos, cada um concentrando uma ou mais áreas de
conhecimento de acordo com a Classificação Nacional de Áreas de
Educação e Formação (CNAEF) e aos quais estarão afetos os cursos
(licenciaturas, cursos técnicos superiores profissionais, mestrados
e pós-graduações) bem com os docentes do IPCB. Constituídos os
Departamentos foi estudada a possibilidade de associação desses
Departamentos visando a criação de novas Escolas cuja a designação
de cada uma estará relacionada com os departamentos que integra. Em
alguns casos a mudança de nome não deverá ser significativa. Sobre
esta matéria não existe nenhuma proposta em concreto.
Quando pensa que essa mudança pode ser
implementada?
É um processo necessariamente longo. Para já há que aprofundar e
consolidar a proposta. Depois há todo um caminho a percorrer que
obrigará à revisão dos Estatutos do IPCB e sua homologação. Para
além da operacionalização em si de todo o processo, que exige
adequado planeamento.
O fator demográfico afeta sobretudo o interior do país.
Como é que o IPCB pode ser um polo de atração de mais
alunos?
Apesar de todos os constrangimentos relacionados com as questões
demográficas da nossa região, temos conseguido atrair mais
estudantes. Em cerca de um ano e meio recuperámos cerca de 500
estudantes. Presentemente o IPCB tem 4300 estudantes.
Tudo indica que a reestruturação organizacional do IPCB promova a
conceção e o desenvolvimento de novas ofertas formativas alinhadas
com as novas Escolas. Destes novos arranjos são esperados ganhos de
atratividade pela especificidade e natureza inovadora dessas
formações. Fundamentalmente, diria, que compete ao IPCB
protagonizar um forte dinamismo na promoção de iniciativas, a
vários níveis, desde o ensino, a investigação e a prestação de
serviços à comunidade, a eventos de natureza cultural, artística,
desportiva e tecnológica, que potenciem uma dinâmica atrativa de
captação e fixação de jovens na região. No quadro da captação de
estudantes internacionais, a estratégia do IPCB deverá ser alinhada
com a da região favorecendo a identidade do IPCB e renovando a
identidade da região.
A especialização da instituição em áreas chave pode ser um
caminho?
A presença das IES nos territórios, pela relevância do seu
contributo no desenvolvimento equilibrado e sustentado das regiões,
é absolutamente essencial. Em regiões periféricas como é a nossa,
assume redobrada importância. A melhoria do nível de qualificação
dos portugueses e a intensificação da investigação científica e do
nível tecnológico da economia, têm tido reflexos na inovação
empresarial e no reforço da empregabilidade em sectores
especializados. Reforçar a ligação ao tecido empresarial e
institucional constitui uma importante orientação estratégica,
sendo essencial apostar em iniciativas conjuntas geradoras de
especialização tanto no contexto do ensino e investigação como da
prestação de prestação de serviços que melhorem a dinâmica de
atração, captação e fixação de jovens e técnicos qualificados na
região. Reforçar o papel do IPCB em áreas ligadas à dinâmica
empresarial e institucional da região, com maior empregabilidade e
interesse estratégico, deve ser o caminho preferencial.
O CCISP apresentou um conjunto de propostas para a nova
legislatura. Na sua opinião quais são as mais prementes?
Na minha perspetiva são várias as propostas que considero
importantes, das quais destacaria a outorga do Grau de Doutor pelo
Sistema Politécnico; Alteração da Designação dos Institutos
Politécnicos; Alargamento do acesso ao ensino superior; Ação social
no Ensino Superior; Financiamento do Ensino Superior;
Investigação aplicada, empreendedorismo, partilha e transferência
de tecnologia; Internacionalização e a autonomia das
IES.
Uma dessas propostas é a atribuição de doutoramentos, o
que implica o reforço da investigação das instituições. Em que
sentido podem caminhar os centros de investigação do
IPCB?
O Decreto-Lei 65/2018 prevê a possibilidade de qualquer IES,
independentemente do subsistema, poder outorgar o grau de doutor.
Deixa de ser um impedimento legal e passa a depender de um conjunto
de critérios objetivos que são iguais para universidades e
politécnicos. Um dos critérios é as IES demonstrarem que produzem
ciência na área em que querem abrir essa formação e as unidades de
investigação associadas têm de ter a classificação mínima de Muito
Bom na avaliação da FCT. O IPCB possui atualmente 6 Unidades de
Investigação e Desenvolvimento (UID). Sou de opinião que as
práticas de ensino e aprendizagem devem focar-se nas profissões e
terem suporte nas atividades de investigação. Esta evolução do IPCB
para um nível organizacional científico e tecnológico que estimula
os valores intrínsecos das atividades de investigação terá forte
impacto na Instituição permitindo a criação grupos fortes de
investigação que diferenciam a instituição no contexto da oferta
formativa, particularmente oferta de programas de doutoramento. Por
outro lado, a organização em consórcios, trabalhando em rede e
aproveitando o que existe de melhor em cada instituição de ensino
superior parece-me uma boa opção.
Acredita que na próxima legislatura a designação dos
politécnicos para universidades de ciências aplicadas pode ser uma
realidade?
O Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos
(CCISP) tem publicamente defendido que a denominação dos
Politécnicos deve ser repensada, mantendo-se o sistema
binário. A nível europeu, as instituições semelhantes aos
Politécnicos em Portugal possuem a denominação de Universidades de
Ciências Aplicadas. Penso que na próxima legislatura haverá
condições para a alteração da designação de Institutos Politécnicos
para Universidades Politécnicas. Universidades porque é a
denominação global comumente aceite e que promove a afirmação
internacional do sistema Politécnico. Politécnica, porque clarifica
a diferenciação que o sistema binário exige e assegura a
continuidade de um sistema que evoluiu se consolidou nos últimos 40
anos.
Em que medida essa alteração será benéfica para os
politécnicos?
No contexto de afirmação internacional dos politécnicos. A
denominação de Instituto confunde-se com o ensino secundário
vocacional, originando dificuldades de interpretação do nível de
ensino que efetivamente temos e pretendemos divulgar
internacionalmente.
De volta ao IPCB. Como avalia a relação do Politécnico de
Castelo Branco com o tecido empresarial da região?
Considero que a relação do IPCB com o tecido empresarial é boa.
Importa, contudo, melhorar ainda mais essa relação. Talvez tal
possa ser conseguido aumentando a autonomia dos diferentes atores
na Instituição, sem ferir as competências dos diferentes órgãos que
se encontram estatutariamente definidas. Em suma, penso que podemos
adequar a organização aos tempos modernos do mercado,
constituindo-se o IPCB como um catalisador de sinergias, e usar
cada vez mais a "linguagem" do tecido empresarial e institucional.
A própria reestruturação organizacional poderá contribuir para a
concretização deste objetivo e promover uma nova dinâmica que
valoriza a Instituição e atrai novos estudantes.
Hoje pode dizer-se que os alunos do IPCB têm oportunidades
de empreender e ousar, beneficiando das estruturas que a cidade
disponibiliza, como o CEi ou Fábrica da
Criatividade?
Sem dúvida. Temos hoje na cidade de castelo Branco um conjunto de
infraestruturas que os estudantes e os diplomados podem usar e onde
podem empreender e desenvolver ideias e negócios. A aposta numa
cidade mais empreendedora, mais culta e mais integradora, converge
perfeitamente com o conceito de cidade académica e do conhecimento,
que acolhe projetos inovadores, integra novos estudantes e valoriza
o conhecimento, a ciência e a cultura. Sou de opinião que os
estudantes devem aproveitar este ecossistema de
desenvolvimento.