Como vai a avaliação da docência?
Não vai: está (mentalmente) parada. Ciclicamente
regressa-se ao mesmo ponto de partida, porque as sucessivas
propostas conhecidas são (tal como a terra) redondas. Parece que
venceu o cansaço e já só se buscam soluções de remedeio para que
todos os intervenientes na negociação deste processo alcancem uma
saída honrosa.
A ser verdade, é pena. Já
aqui dissemos que a avaliação de um professor não pode servir
apenas para filtragem na progressão da carreira e controle
orçamental. Bem pelo contrário: A avaliação de um professor é uma
actividade que se projecta no futuro. Conhecidos que forem os
resultados da avaliação, tudo, ou quase tudo está por fazer. É com
base nos dados recolhidos pelo avaliador e pelo avaliado que se
traçam as grandes linhas de actuação que estão para vir. Ou seja,
as actividades de melhoramento ou de alteração do desempenho do
professor começam precisamente aí. Por isso mesmo, o resultado da
avaliação deve ser encarado como um dado de presságio que, em
contínua espiral de desenvolvimento, deve acompanhar toda a
carreira do professor, adaptando-se às necessidades pressentidas em
cada um dos diferentes estádios profissionais que ele
atravessa.
O processo de avaliação,
assim entendido, terá que merecer uma aceitação indiscutível por
parte de avaliadores e de avaliados e não pode estar sujeito a
hipocrisias burocrático administrativas. Até porque o professor, em
determinadas situações avaliador de si próprio, deve contribuir
para que progressivamente sinta que é dispensável a ajuda externa
dos seus supervisores, já que a avaliação deve encaminhá-lo para
estádios de mestria, e para progressivos níveis de excelência,
conferidos pelo auto-controle e pela auto-formação. Nestes
contextos a classificação pode até ser um prescindível elemento da
avaliação… Daí que se diga que o principal objectivo do supervisor
é… tornar-se dispensável.
Em Portugal continuamos a
viver momentos de pura cegueira sobre esta matéria. Há quem entenda
que a implementação séria de um modelo de avaliação dos professores
é, priooritariamente, tarefa administrativa, resultando apenas de
progressivos consensos gerados à mesa de negociações.
E, de todo, não o é! Pelas
implicações pessoais e profissionais que pode provocar, um modelo
de avaliação de professores é coisa muitíssimo mais séria… Tem que
contemplar a soma das actividades em que ele se desdobra e em que
se envolve. Logo, deve apreciar o professor enquanto profissional,
mas também como pessoa, como membro de uma comunidade, como técnico
qualificado na arte de ensinar e como especialista das matérias que
ensina. Portanto, requer a intervenção, desde logo dele próprio,
mas também de outros agentes que sobre ele se pronunciam. E todos
esses intervenientes do processo avaliativo, para que consigam
alcançar o exercício pleno da sua missão, carecem de uma formação
específica e especializada em supervisão e em observação de actos
pedagógicos.
Na sociedade do conhecimento
e da informação, requer-se também a montagem de uma rede de
comunicações, em que a vídeo gravação e a observação à distância
tenham lugar de destaque. Como tal, deve-se promover o recurso à
hetero-observação, à autoscopia, à vídeo-conferência e à circulação
de portefólios digitais, enquanto recursos, meios e produtos
indispensáveis ao desenvolvimento de docentes que, diariamente,
lidam com jovens da geração do facebook.
Um sistema destes
também requer tempo para ser testado e validado, antes de ser
generalizado. Impõe uma escolha criteriosa das escolas que irão
constituir a amostra, bem como dos instrumentos e dos agentes que
vão avaliar esse pré-teste. Obriga a uma escolha prudente dos
futuros avaliadores, após se ter procedido ao estabelecimento de um
perfil desses supervisores. Impõe a rápida formação dos professores
e dos seus avaliadores… Isto é, a implementação de um tal sistema
requer tempo e a afectação generosa de recursos humanos e
financeiros.
Não me parece ser este o
caminho escolhido pela tutela. Esta está mais apostada em proceder
a um rápida negociação que promova o silenciamento das vozes mais
críticas, mesmo que isso resulte em mais um remendo administrativo,
ou a uma reforma semântica, de um sistema de avaliação burocrático,
que até hoje apenas provou que nada vale, e que apenas serve o
controlo de custos na educação.
À mesa das negociações
traçam-se cenários que tudo têm a ver com a busca de uma solução
política que ultrapasse o quadro de guerrilha que se apoderou das
nossas escolas. Mas, reconheça-se que, se nessa fotografia ninguém
quiser ficar mal, esses cenários pouco terão que ver com as
merecidas vitórias por que tanto e tão dignamente lutaram os
professores.