Opinião

Crónica
Elogio da dialética

João de Sousa TeixeiraA sociedade dos nossos dias, preconceituosa e burguesa, a tal que promove os vícios privados e as públicas virtudes, vê-se hoje em palpos de aranha para segurar a tampa da caixinha onde, durante anos a fio, escondeu pudores e poucas vergonhas; más vontades e cinismo; corrupção e explorações várias; incompetências e fait divers e muita, muita má-criação.

Como sempre, escolhe o pingente mais à mão para assacar culpas e eis que a crise - a receita que esta sociedade cozinha para envenenar a quem tem fome - é também o cenário ideal, monstruoso e alheio, que serve para tapar o sol com a peneira, metendo no mesmo saco os tumultos sociais, os impostos, as políticas de direita e os tumultos sociais, os privilégios de alguns, o desemprego de muitos e os tumultos sociais, tomando arrogante partido na luta de classes e na afirmação ideológica, afinal vivas, ao contrário das estórias contadas e guardadas na supracitada caixa, cuja tampa já não aguenta a pressão.

Quando um energúmeno norueguês dá azo às suas ideias e assim mata cidadãos inocentes porque não vai com as suas concepções, a sua religião ou a cor da sua pele, é um louco, um cristão fundamentalista ou um visionário, que crê ser sua herança privilegiada o lugar onde foi parido e não quer partilhá-lo com quem é filho adoptivo. Mas se em várias cidades Inglesas, grupos de jovens se revoltam por discriminação, falta de emprego e de perspectivas políticas económicas e sociais, são desordeiros, gangs a soldo altamente perigosos, alvos a abater, conforme as orientações mediáticas, as fontes de informação e a excitação dos directos.

E no meio de tudo isto, os EU, a todo-poderosa América afinal é um fruto podre. Não tão podre como alguns países da Europa, mas podre; não tão Europa como todo o fruto podre, mas América.

Alan Ginesberg, gritava no seu poema América: "A Ásia levanta-se contra mim.

… A minha ambição é ser presidente, apesar do facto de que eu sou um católico." Para os americanos do norte, o mal nunca está nas suas entranhas. Para eles, o perigo é sempre da má vizinhança. Mas já nada disso torna o fruto são, meu caro Ginesberg.

O problema está em que esta sociedade apoiada nos fundamentos do capitalismo chegou ao fim. Não consegue distribuir equitativamente a riqueza produzida e dar respostas justas e equilibradas às populações que desesperam pelo direito à cidadania e, em muitos milhões de casos, à própria vida. Os monopólios são isso mesmo: nasceram para ser únicos, não para partilhar seja o que for. Não há ciência que faça tornar são o fruto que apodreceu e os milagres, bem, os milagres são talentos das famílias para chegarem vivas ao fim do mês.

 
 
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