Resíduos Fármacos prejudicam peixes
Cespu e a fertilidade no Douro
As águas superficiais do rio Douro estão contaminadas com
resíduos fármacos que podem levar à diminuição da fertilidade dos
peixes, indicam os resultados de um estudo divulgado, no início de
setembro, pela cooperativa de ensino CESPU.
O estudo, liderado pela investigadora Maria Elizabeth Tiritan,
professora da CESPU - Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e
Universitário, confirma a existência de resíduos fármacos,
nomeadamente antiepiléticos, ansiolíticos e antibióticos, nas águas
superficiais do rio Douro e os seus efeitos nos peixes.
Já em julho de 2010 um outro estudo, conduzido pelo hidrobiólogo
Adriano Bordalo e Sá, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel
Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, indicava índices de
poluição do troço final do Douro 200 a 500 vezes superiores ao
admissível, com efeitos na mudança de sexo de tainhas e solhas.
O estudo da CESPU, correspondente
ao projeto de doutoramento de Tânia Vieira Madureira, envolveu
fármacos de diferentes classes terapêuticas, como o diazepam
(ansiolítico), o propranol (bloqueador beta), o ácido fenofíbrico
(antidislipidémico), o sulfametoxazol, o trimetoprim (antibiótico)
e a carbamazepina (antiepilético).
As investigadoras alertam que "as
Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) não estão
projetadas de forma a eliminar este tipo de compostos provenientes
da rede de esgotos domésticos e hospitalares" quando se encontram
em baixas concentrações.
"Ainda não é possível impedir que
os resíduos de fármacos cheguem às águas dos rios", afirma
Elizabeth Tiritan, notando que, como medida preventiva enquanto não
se consegue melhorar a eficiência das ETAR, "a recolha de
medicamentos fora de prazo ajudaria a minimizar o problema".
Ao longo de um ano, foi avaliada a
distribuição de alguns compostos farmacêuticos nas águas
superficiais do estuário do Douro, com a realização de uma colheita
em cada estação do ano.
Os resultados mostraram que o
composto encontrado em concentrações mais elevadas foi a
carbamazepina, um fármaco utilizado no tratamento da epilepsia,
existindo uma tendência para maiores concentrações destes resíduos
nas áreas mais urbanizadas.
A equipa constatou ainda que outros
fármacos não analisados no estudo "poderão estar presentes nas
águas durienses, existindo, assim, o risco potencial de
interferência no equilíbrio dos ecossistemas das espécies
aquáticas".
"Um dos desequilíbrios mais
perigosos prende-se com a feminização dos peixes machos, em
consequência, por exemplo, da existência de anticoncecionais no
Douro", referem as investigadoras.
O estudo, publicado na revista
internacional "Science of the Total Environment", foi apoiado
financeiramente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT),
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) do Brasil e CESPU.