Quatro rodas
Depois de duas edições com crónicas um pouco
ásperas, relativamente a situações da nossa sociedade sobre as
quais entendi pronunciar-me, volto, hoje, a comentar uma situação
marcante, com a qual me deparei no meu dia-a-dia, mas, desta vez,
bem mais aveludada.
Conduzindo, pela nacional 224,
perto de Oliveira de Azeméis, e tratando-se de uma viagem de
trabalho, conduzia de forma eficaz, aproveitando todas as
oportunidades da estrada para alcançar o limite da velocidade
permitida.
Deparo-me, então, com um veículo de
passageiros, que seguia à minha frente, no mesmo sentido, mas em
velocidade substancialmente mais lenta. O meu primeiro impulso foi
ultrapassar a todo o custo o veículo, aguardando com alguma
ansiedade que, no final do traço continuo, aparecesse uma reta sem
veículos vindos de frente para poder efetuar a desejada
ultrapassagem.
Acontece que para aqueles lados,
não é fácil ter em simultâneo as duas situações, ou seja, estrada
sem traço contínuo e sem trânsito de frente.
Não conseguindo efetuar, de
imediato, a manobra comecei a ficar algo agitado pela
impossibilidade de ultrapassagem e preparava-me para levar um pouco
mais perto do limite a próxima tentativa.
Foi então, que me foquei um pouco
melhor naquele meu "adversário" da estrada e pude observar bem a
imagem, que o pequeno autocarro ostentava na sua traseira. Era nada
mais nada menos que a foto de uma criança com uma expressão tal,
que me encheu de mensagens subliminares.
De imediato,
consciente ou inconscientemente, os meus níveis de ansiedade,
diminuíram pois presumi que o autocarro estaria cheio de crianças e
que qualquer manobra minha, mais arrojada, poderia provocar no
motorista do autocarro uma reação que poderia não ter um final
feliz.
Muitas outras coisas me vieram à
cabeça naqueles segundos, e ali mesmo, tomei a decisão de escrever
sobre esta ideia de pintar os autocarros com temas, que provoquem
sensações a quem conduz, na estrada, com a finalidade de baixar os
níveis de ansiedade dos automobilistas.
Voltando à minha viagem, poucos
quilómetros depois, lá apareceu uma subida, com dupla faixa, que me
permitiu efetuar a manobra de ultrapassagem com perfeita
tranquilidade e, ao meu acompanhante tirar a foto que ilustra a
presente crónica.
Por fim, peço-vos que observem, na
foto, o contraste entre a imagem da criança, e a sinalização
obrigatória do veículo, da qual só me dei conta após ver a
foto.
Não sei se já foi feito alguma
coisa sobre este tema, mas talvez o futuro passe pelo envio de
mensagens subliminares aos automobilistas, de forma a trazer maior
tranquilidade às nossas estradas.
Senhores psicólogos, investiguem e
vamos inovar.