Ano do Brasil em Portugal
O Brasil que não se conhece
As comemorações d`O Ano do Brasil em Portugal e de
Portugal no Brasil decorreram em simultâneo em Portugal e no
Brasil. 2013 foi o ano da descoberta da cultura de cada um dos dois
países, pelo outro. Vivian Toller, da FUNARTE (Fundação Nacional de
Artes do Brasil), em tempo de balanço, conta ao Ensino Magazine
como foi trazer a Portugal centenas de artistas de áreas como
a música, a dança e a representação.
Terminou no passado dia
10 de junho o Ano do Brasil em Portugal. Que balanço faz deste
projeto?
O
balanço é extremamente positivo. O objetivo principal da Funarte
como impulsionadora do Ano do Brasil em Portugal (ABP) e do Espaço
Brasil (EB) era dar a conhecer às pessoas um Brasil não conhecido
em Portugal. Estas comemorações trouxeram ao país centenas de
artistas plásticos, músicos, bailarinos, atores e outros artistas
de elevada qualidade que muito provavelmente não viriam a Portugal
se não fosse esta grande iniciativa.
Qual a importância que o
Espaço Brasil teve nesta iniciativa?
O Espaço Brasil foi de extrema
importância pois abrigou uma quantidade enorme de iniciativas que,
durante estes meses, puderam mostrar ao público de Portugal o que o
Brasil tem de maravilhoso, a vários níveis. Começando pela nossa
loja em que tínhamos muitas vezes CDs e DVDs inéditos em Portugal,
tentámos criar no bar uma pequena amostra da gastronomia brasileira
com o caldo de feijão, o pão de queijo, o quindim, sem falar na
obrigatória caipirinha que era, sem dúvida, deliciosa. Na galeria
tivemos exposições muito interessantes, onde saliento o acervo da
Casa do Museu do Pontal e os bloquinhos de Lúcio Costa. Tivemos a
hipótese de promover workshops de samba, coco, ciranda e maracatu,
forró e percussão. Na música, tivemos o privilégio de receber
grandes talentos, na sua maioria nunca antes vistos em Portugal,
músicos incríveis de todos os géneros musicais, que transbordaram o
EB de emoção. Podíamos ver o resultado deste trabalho todos os
dias, no "sentimento" que os músicos carregaram de volta para o
Brasil após os concertos, e no olhar do público que tantos momentos
maravilhosos pôde experimentar neste espaço que era mágico e traz
saudade a muita gente.
Destaque um momento,
entre muitos dos que ficaram gravados na sua memória, pela
positiva.
A
satisfação de Milton Nascimento após o seu concerto, nome
mundialmente conhecido, que se apresentou no nosso Espaço Brasil.
Artista muito simpático embora de poucas palavras, mas que no final
expressou o seu contentamento. Foi sem dúvida incrível saber que
não apenas aqueles que vinham pela primeira vez a Portugal saíam
contagiados pela magia do EB, mas também os grandes se sentiram em
casa e bem acolhidos por nós e pelo público que interagiu sempre
com os artistas, permitindo a partilha de energia positiva entre
artista em palco e as pessoas.
Como reagiram os
brasileiros e os portugueses à programação apresentada neste
espaço?
A
programação, escolhida a dedo e muito cuidadosamente, esteve a
cargo de Zé Ricardo, ele próprio um músico conhecido no Brasil, e
foi bastante comentada. Tivemos uma variedade incrível de géneros
de artistas, alguns mais conhecidos do público português, outros
conhecidos apenas do público brasileiro, mas que também trazia
portugueses a conhecerem o desconhecido. Todos aqueles que vieram
ao EB para conhecer algum artista ficaram encantados. Como a
qualidade era o grande objetivo na seleção da programação, quem
veio, adorou.
Claro
que sentimos a normal dificuldade em que o público viesse conhecer
um artista nunca falado nem visto em Portugal, em especial porque
tínhamos uma programação muito intensa. Grandes músicos passaram
pelo EB e tanto brasileiros como portugueses puderam verificar e se
emocionar com a nossa incrível programação.
Como vê o futuro? Ou
seja, o que fica deste espaço, que nos pareceu muito acarinhado
pelos muitos que o frequentaram?
Ainda não sabemos o que acontecerá com o espaço do
EB mas uma certeza eu tenho, ficará na memória de muitas pessoas.
Conseguimos que um pouco da cultura brasileira chegasse às pessoas
que se interessaram em vir nos visitar e deixou saudades a muita
gente. Eu pude ouvir isso de artistas e do público, e isso é sinal
de que foram meses que marcaram as pessoas. Penso que foi uma
iniciativa que despertou nos portugueses uma curiosidade maior pela
cultura brasileira, que é muito mais do que normalmente recebemos
em Portugal. Acho que esse projeto serviu de base para que passe a
haver uma maior interação cultural entre os países. Penso que
havendo investimento e uma escolha bem-feita, o público estará
sempre aberto a conhecer a enorme diversidade que é a cultura
brasileira.
Na hora da despedida, o
que tem para dizer aos portugueses ou aos brasileiros que cá
vivem?
Eu vivo em Portugal há muitos anos, embora seja
brasileira, e penso que essa iniciativa veio enriquecer a vida das
pessoas com eventos únicos que se apresentaram no EB. Tentámos que
este centro cultural, que era o EB, fosse um espaço agradável e
acolhedor e acho que conseguimos atingir o objetivo. Quem esteve lá
sabe do que eu falo! Posso dizer que também para os muitos artistas
que estiveram cá foi um privilégio e emoção únicos. Muitos viveram
momentos que se recordarão sempre, pois o nosso público foi sempre
incrivelmente caloroso, fossem artistas mais ou menos conhecidos em
Portugal.