Primeira coluna
Uma outra forma de olhar os números
Pela primeira vez a divulgação dos resultados da
primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior foi
acompanhada de uma estimativa futura sobre quantos novos alunos vão
entrar nas universidades e politécnicos este ano. Um trabalho
exaustivo desenvolvido pela Direção Geral de Ensino Superior,
liderada por João Queirós, e que o ministro da tutela, Manuel
Heitor, divulgou numa reunião com os jornalistas, em que também
estivemos presentes. Este pequeno grande pormenor mudou o modo como
os portugueses olharam este ano para as colocações e para as
instituições de ensino no seu todo.
No passado a grande preocupação da
comunicação social era transmitir quais as instituições que ficaram
com cursos sem alunos nesta primeira fase, aquelas que os
preencheram todos, e as que apresentaram melhores e piores médias
na entrada. A perspetiva resumia-se à análise pura e dura do quadro
de excel onde estão espelhadas as entradas desta primeira fase, a
última nota de entrada, e as vagas sobrantes de cada curso. Tudo o
resto, 2ª e
3ª fase, regimes especiais
de entrada, e estudantes internacionais não eram tidos em conta,
ficando a opinião pública com a ideia de que havia no país
instituições de ensino superior a mais.
O que o ministro Manuel Heitor veio
dizer é que não é assim, que não há instituições a mais, há é
porventura alunos a entrar no ensino superior a menos. Mas mais do
que isso, o ministério procurou esclarecer, de uma vez por todas,
que a entrada no ensino superior não se faz apenas na
1ª fase do Concurso Nacional de Acesso,
que há ainda mais duas fases desse concurso, e que há outras formas
para se entrar no ensino superior. Os dados anunciados revelam que
todas as universidades e politécnicos terão mais alunos do que as
vagas colocadas disponibilizadas no concurso nacional de
acesso.
Não significa isto que está tudo bem
e que não há problemas. Eles existem desde logo pelo elevado número
de estudantes que terminam o ensino secundário e não prosseguem
estudos. São dezenas de milhares os que se encontram nessa
situação. Só nos que concluem formações profissionais estamos a
falar de 22 mil alunos por ano e que se acumulam anualmente. A isto
junta-se a demografia e aquilo que ela já está a representar e que
no futuro se acentuará. Reduzindo--se a base de "recrutamento"
importa, a nível interno, fazer com que mais jovens que concluem o
ensino secundário entrem no ensino superior. Importa criar
condições para que eles o consigam fazer, intervindo a vários
níveis como a ação social, a diversidade ou a inclusão, para que
todos os jovens possam estudar e qualificarem-se superiormente.
Numa outra perspetiva, e que já está a ser feita pela generalidade
das instituições, há que procurar estudantes internacionais.
Como refere a Secretária de Estado
do Ensino Superior, Fernanda Rolo, "o futuro discute-se com
formação". E uma formação superior garantirá melhores salários. Mas
garantirá também mais massa crítica, mais capacidade de intervir e,
mais importante ainda, mais competitividade no mundo do trabalho à
escala global. É assim. Os velhos do restelo que pensam o
contrário, estão enganados. O saber nunca fez mal a ninguém. Haja
agora coragem para o resto, porque apesar do aumento do número de
alunos que este ano se candidataram ao ensino superior, ainda é
pouco para um país que pretende cumprir as metas de qualificação
com que se comprometeu com a Europa.