Editorial
Aí estão os novos alunos
Ninguém ignora que a fonte da vitalidade
e do crescimento do ensino superior nos países mais desenvolvidos
da Europa se radica na busca de novos públicos.
A procura de novos aprendentes tem
encontrado justificação no princípio de que o ensino superior é um
dos recursos fundamentais e não esgotáveis para promover o
bem-estar, a segurança pessoal e social dos povos e das nações, no
pressuposto de que o capital intelectual irá substituir o capital
financeiro e o capital físico, tornando-se, por isso, a pedra
angular para a prosperidade e o desenvolvimento.
Interessa, pois, registar também a
nossa convicção de que existem novos públicos que alimentam e se
querem servir do ensino superior, de que existem milhares de
cidadãos que se dirigem às instituições de ensino superior
conscientes da necessidade da aprendizagem permanente, já que a
sociedade do conhecimento gera a desactualização permanente.
Esses novos públicos são
constituídos por adultos integrados na força do trabalho, que
interiorizaram o princípio da aprendizagem ao longo da vida,
procurando, por essa via, novos saberes que reforcem a qualidade do
exercício da sua vida profissional, lhes abram novos caminhos
profissionais, ou diferentes percursos no seu processo de
crescimento pessoal. Muitos outros procuram as instituições de
ensino superior numa idade ainda socialmente útil, mas em que os
processos de reforma os encostaram à desocupação precoce, não
compaginável com a vitalidade que ainda revelam.
Incompreensivelmente, são as
entidades privadas quem primeiro despertaram para esta realidade,
enredando-se as instituições públicas em processos de discussão
endogâmica que certamente lhes permitem purificar, ao limite, a
árvore, mas que as impedem de se lançar na exploração do manancial
oferecido pela floresta.
Claro que estes novos públicos
obrigam a mudanças radicais nas rotinas organizacionais das
instituições. Mudanças que abarcam sectores tão diferenciados
quanto os que se reportam aos horários de funcionamento, ou ao
atendimento e entendimento pessoal e personalizado dos novos
alunos. Mudanças que envolvem a criação de bibliotecas virtuais,
plataformas de ensino a distância ou a implementação de
procedimentos de comunicação próximos do que poderíamos designar
por "pedagogia digital".
Estes novos paradigmas encerram
também a necessidade, inadiável, de exigir uma clarificação da
designação das titulações e dos diplomas em vigor, assunto sobre o
qual urge a busca de um consenso, pelo menos entre os países que
integram a Comunidade Europeia.
Pior do que o enfrentar dessa
situação, é o imobilismo das próprias instituições de ensino
superior em aceitar estes novos desafios, em incorporar a mudança,
em inflectir comportamentos que visem aproximar o investimento
pessoal de quem aí trabalha das necessidades da sociedade do
futuro. E também o atavismo dos governos que preferem deixar nas
regras concorrenciais do mercado a sobrevivência das instituições,
em vez de, num esforço conjunto, desenharem com essas instituições
os novos percursos e o sentido da mudança. Designadamente, sobre a
necessidade de compreender que se a última metade do século XX
correspondeu à necessidade de expansão da rede do pré-escolar, as
primeiras décadas do século XXI exigem um considerável alargamento
da rede de apoio aos públicos seniores.
Por isso nos interrogamos se
estamos preparados para o aparente caos que já nos rodeia e que nos
obrigará a mudar uma boa parte das nossas representações sobre o
que é um aluno do ensino superior e sobre os métodos e os processos
de os formar.