António Fidalgo, Reitor da Universidade da Beira Interior
UBI entre as melhores do mundo
A Universidade da Beira Interior está entre as
melhores do mundo em rankings internacionais. António Fidalgo,
reitor da instituição, fala de uma cultura de responsabilidade e de
qualidade. Em entrevista ao Ensino Magazine aborda a questão da
demografia e destaca a captação de alunos estrangeiros por parte da
instituição. A UBI é uma universidade cosmopolita que privilegia o
estudo e a investigação. Proporciona aos seus alunos um ambiente
académico dinâmico, mas ao mesmo tempo acolhedor.
A UBI está entre as melhores do mundo em rankings
internacionais, como o de Xangai. Como é possível, estando no
interior do país, a universidade aparecer nesses
estudos?
É fruto de um trabalho que vem sendo desenvolvido desde o seu
início. A UBI caracterizou-se sempre mais pelo ser do que pelo
parecer. Mas há uma altura em que trabalhando no ser vai aparecer a
obra feita. A UBI foi das universidades que levou mais tempo a
construir-se, mas fê-lo de uma maneira muito sadia, apostando na
qualidade, trazendo professores das universidades de Lisboa e
Coimbra, mas também do leste europeu (no início dos anos 90), numa
medida, na altura muito criticada, mas que nos trouxe solidez e
internacionalização muito fortes. Sempre apostámos numa solidez
científica muito grande e estamos a colher os frutos desse
trabalho. Outro aspeto muito importante foi a refundação da
universidade com a criação da Faculdade de Ciências da Saúde,
nomeadamente com o curso de medicina.
Já o referiu , mais que uma vez, a UBI é uma universidade
de estudo…
Os alunos vêm aqui para estudar e nós privilegiamos isso, criando
um ambiente de estudo muito grande. Foi todo este clima que recebeu
o reconhecimento dos jovens. Somos uma universidade que tem vindo
sempre a crescer. A aposta no campus do estudo e da investigação
faz com que a UBI apareça em vários rankings.
Noutras ocasiões referiu que gostaria de ver a cidade mais
cosmopolita por culpa da universidade. Isso está a
acontecer?
Está. O que tem sucedido além da universidade, a atração de
pessoas, o investimento que tem havido na construção e na
reconstrução da zona histórica da cidade com atenção aos jovens,
tem potenciado isso. Temos 1100 alunos estrangeiros e queremos
crescer. O que é um facto é que temos projetado a UBI, fruto
de várias circunstâncias, nomeadamente a qualidade da universidade,
o ambiente académico que se vive, com a nossa biblioteca aberta
todos os dias 24H/dia, a qualidade de vida da cidade e a segurança
que existe.
A vinda de mais alunos internacionais continua a ser uma
aposta. Além do espaço lusófono é possível captar estudantes
noutros países?
Sim. Nós temos alunos de cerca de 40 nacionalidades. Nalguns casos
poderemos reforçar essa presença. Quando em 2013 apostámos na
captação de alunos no Brasil, a UBI tinha apenas uma mão cheia de
estudantes brasileiros. Hoje são cerca de meio milhar. Além disso,
continuamos com uma ligação muito forte a universidades públicas
angolanas (o governo angolano escolheu a UBI como parceiro
estratégico), mas também com instituições privadas. Estamos, neste
momento a reenviar para Angola 100 mestres. A UBI é conhecida em
Angola como uma universidade onde se estuda e onde se tem sucesso
quando se estuda. Neste momento não recebendo bolseiros do estado
angolano, recebemos alunos cujas próprias famílias suportam os
custos da formação.
Este ano a tutela permitiu o aumento de 5% das vagas nas
instituições do ensino superior do interior do país…
O aumento de 5% é um presente problemático. Repare que o número de
candidatos diminuiu em 5,6%. Isso vai fazer com que as taxas de
colocação vão ser muito menores no interior do país. Mas acredito
que com o reconhecimento da UBI, com o ambiente que temos criado,
vamos alcançar uma boa taxa de colocações. Temos aqui três cursos
muito apetecidos, que são medicina, engenharia aeronáutica e
cinema. A UBI hoje já não desconhecida nos grandes centros. Na
captação de alunos o elemento fundamental é a experiência de quem
por cá passou. E a universidade está numa boa fase. Há muito boa
vivência académica, e a cidade é muito atrativa para alunos que
estejam nos grandes centros. Aqui tudo demora apenas minutos, não
temos engarrafamentos.
Daí a aposta nos antigos alunos?
Sim. E isso está a resultar, temos tido muitos encontros,
reforçando o lema "uma vez ubiano sempre ubiano". Numa outra
perspetiva, hoje já recebemos alunos filhos de antigos alunos. Tudo
isto é objeto de grande satisfação, vemos que a casa é reconhecida
e amada.
Ao nível da oferta formativa, este ano vão arrancar com um
nova licenciatura?
Sim, vamos avançar com a Engenharia da Gestão Industrial. É uma
engenharia muito procurada e na qual nós temos uma grande tradição.
Quando em 2004 houve uma crise de falta de alunos para as
engenharias fechámos o primeiro ciclo de formação, mas mantivemos
os outros, sendo que o mestrado é o de maior procura em primeira
opção. Agora voltámos a abrir a licenciatura.
Uma das questões por que o professor se tem batido está
relacionada com o modo como o Estado financia as instituições de
ensino superior público. É uma questão que se mantém por
resolver?
É uma questão que se tem agravado. A UBI, fruto das reposições
salariais que é obrigada a fazer (fazemos - e bem - a avaliação
desde 2004 para que as pessoas façam a sua progressão
profissional), em julho pagou todas as reposições desde janeiro -
obviamente que sem retroativos pois a Lei também o impede impede -,
pelo que isso terá um peso maior no nosso orçamento do próximo ano.
O que lamento é que não haja uma fórmula de financiamento das
instituições, que é o básico dos básicos. É inadmissível que um
estudante em Lisboa ou no Porto tenha um financiamento do Orçamento
de Estado superior ao da Universidade da Beira Interior.
Nunca houve abertura para se solucionar esta
questão?
Houve abertura quando a fórmula que foi publicada em finais de
2015 atribuía à UBI um acréscimo de 25% no Orçamento de Estado.
Infelizmente, a nova tutela disse que a aplicação da fórmula só
ocorreria quando houvesse mais meios disponíveis do OE para o
ensino superior. E passados quatro anos verificamos que isso não
aconteceu. Tudo isto foi agravado devido à questão da austeridade,
com as reposições salariais (que não foram compensadas com o
OE).
Mudando de assunto. A UBI foi uma das instituições que
aderiu às bicicletas elétricas...
A UBI soube fazer muito bem o concurso e chegámos ao final com a
sua execução completa, recebendo 100 bicicletas. Agora está nas
mãos da autarquia criar as vias para as bicicletas, nomeadamente a
ligação pela estrada do sineiro à faculdade de Ciências Sociais e
Humanas.
A ecologia é também uma imagem que se associa à marca
UBI?
Isto é muito importante, pois está também relacionada com a
emissão de carbono. Nós estamos a viver um paradigma que nos força
a repensar hábitos e formas de vida. A aposta nestes meios é
fundamental, e a universidade está a dar um contributo importante.
Tenho pena que as normas impeçam que as bicicletas possam ser
partilhadas por toda a comunidade, pois as regras do projeto
obrigam que cada bicicleta esteja ligada apenas a uma pessoa.
Aquilo que pretendíamos era a sua partilha.