1ª Coluna

O tempo dos que chegam e dos que partem

João CarregaA Direção Geral do Ensino Superior estima que, no ano letivo que agora vai ter início, chegarão ao ensino superior português público 77 mil novos estudantes. O número inclui, segundo aquele organismo, 68 mil alunos de cursos de licenciatura e mestrados integrados e nove mil estudantes dos cursos de técnicos superiores profissionais (TESP's).

Os dados, divulgados pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior, em nota enviada ao Ensino Magazine, revelam através da primeira fase do Concurso Nacional de Acesso (uma das vias de entrada de alunos para politécnicos e universidades) 44 mil e 500 alunos foram colocados (o que representa um aumento de 1,2% face a 2018), sendo que destes 53% entraram sua primeira opção.

Nas outras de vias de ingresso, verifica-se um aumento de 40% de estudantes internacionais, num total de sete mil novos estudantes; uma subida de 25% no número de estudantes em formações curtas iniciais (TESP's); e uma subida no número de alunos que decidiram voltar a estudar e solicitaram o seu reingresso (mais de 3700).

Estes indicadores, positivos, devem servir de estimulo para que universidades e politécnicos prossigam os seus objetivos na formação, investigação e internacionalização. Três eixos importantes para tornar as instituições mais competitivas e o país melhor preparado para os desafios que o mundo exige.

O aumento do número alunos colocados através do CNA, embora importante, confirma que continua a existir uma elevada percentagem de estudantes que concluem o ensino secundário e profissional que opta por não prosseguir estudos. Há por isso um caminho a percorrer pelas instituições, mas também pela sociedade portuguesa que deve ser mais exigente para consigo própria, afastando aquela ideia peregrina de que nem todos podem ser doutores. Mas não é disso que se trata. Não é o facto de se ter um título académico que nos torna mais ou menos importantes, mas uma formação superior garante-nos mais competências e competitividade. E atrás disso surgirão mais oportunidades, hoje à escala global, melhores desafios profissionais e vencimentos maiores. É sobre esta mensagem que as famílias e os jovens portugueses que decidiram não prosseguir estudos, devem refletir.

E, se a nível interno, a sensibilização desses alunos que continuam a não querer prosseguir estudos deve ser encarada como uma prioridade, externamente a captação de estudantes internacionais tem merecido das universidades e politécnicos uma aposta forte. A dimensão da língua portuguesa torna o mundo lusófono apetecível, a que se alia a necessidade que muitos desses países têm em qualificar os seus quadros e a sua população. Portugal tem instituições de qualidade que garantem, a preços acessíveis, essa formação. Mas tem também a segurança e a qualidade de vida. Fatores que não passam despercebidos aos nossos países irmãos, como o Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné ou S. Tomé e Príncipe, por exemplo. Mas as universidades e politécnicos portugueses devem olhar para outros cenários, como o latinoamericano, ou o chinês (este via Macau), mas também para o chamado mercado da saudade, onde existem milhões de jovens descendentes de portugueses.

Só a conjugação destes fatores poderá permitir que as universidades e politécnicos portugueses não percam alunos, pois a questão demográfica está mais que estudada. Falta gente no território e os que nascem são poucos para compensar os que partem.

 
 
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