Professor de Leiria publica na Nature
Pesca põe em causa várias espécies de tubarões
O investigador do Politécnico de Leiria, André
Afonso, integra a equipa de especialistas que acaba de publicar, na
revista Nature, um artigo sobre o impacto da pesca na
sustentabilidade de diversas espécies de tubarões. Os
investigadores concluem que cerca de um quarto dos habitats dos
tubarões estão em zonas de pesca ativa, o que ameaça grandemente os
tubarões, cujas populações têm vindo a declinar em todo o
mundo.
O artigo explica que os
tubarões incluem espécies altamente migratórias que percorrem
vastas áreas dos oceanos, incluindo áreas que são usadas para pesca
intensiva. Dos tubarões capturados na pesca, cerca de metade são
tubarões adultos, o que é uma das maiores ameaças à
sustentabilidade das espécies.
A equipa internacional de
investigadores tentou determinar as zonas de sobreposição entre as
rotas dos tubarões e as zonas de pesca, usando dispositivos de
rastreamento de movimentos por satélite em tubarões, e cruzando
essa informação com a das rotas de pesca mundial. No total foram
seguidos 1681 tubarões adultos, de 23 espécies, marcados com estes
transmissores de satélite, e rastreados os movimentos de
embarcações de pesca. Os resultados permitem apurar com detalhes
sem precedentes que 24% do espaço usado por tubarões num mês
coincide com o das rotas de pesca industrial com palangre, o tipo
de pesca responsável por capturar mais tubarões no alto
mar.
Acresce que as áreas do
oceano que são mais frequentadas por espécies protegidas, como o
tubarão branco e o tubarão sardo, registam ainda mais sobreposição
com as zonas de pesca industrial com palangre, em cerca de
64%.
Para os investigadores, os
resultados indicam que os tubarões têm espaços limitados onde podem
estar protegidos da pesca, e exortam as autoridades internacionais
a concertar esforços para proteger estes tubarões, nomeadamente
definindo largas áreas marinhas protegidas junto às zonas de
atividade dos tubarões.
André Afonso explica que
"este trabalho é extremamente importante pela escala global em que
foi conduzido e pela implicação dos resultados obtidos para a
conservação dos recursos oceânicos. Os dados que produzimos revelam
uma exposição bastante elevada destas espécies já de si vulneráveis
à pressão pesqueira. Os tubarões azul e mako chegam mesmo a atingir
76% e 62% de sobreposição espacial com as zonas de pesca". Por isso
considera que "é urgente implementar medidas de proteção em regiões
oceânicas para assegurar a conservação destas importantes
populações de predadores marinhos".