Bocas do Galinheiro
Em
vários momentos temos referido a necessidade de se proceder a uma
revisão do nosso sistema de formação de professores, para que o
esforço aplicado na sua profissionalização tenha claras
contrapartidas na melhoria dos resultados escolares dos alunos.
Nesse contexto, temos valorizado o
prolongamento da formação para dentro das escolas em que os
docentes trabalham, recuperando-as como centros de saber, como
centros de aprendizagem em situação, como comunidades educativas em
que as famílias, os jovens e os educadores assumam a sua quota
parte de formação ao longo da vida.
Por tudo isso, e também porque
entendida como uma continuação da formação inicial, a formação
permanente deverá fundamentar-se na necessidade e exigência da
alteração de atitudes, mentalidades e competências profissionais e
pessoais, para um melhor desempenho da prática lectiva, tendo como
horizonte a consequente melhoria da aprendizagem e desenvolvimento
integral dos alunos.
Não é por acaso que se considera o
primeiro ano de carreira - o ano da indução - como um primeiro ano
de exercício profissional autónomo que deveria ser acompanhado
pelas instituições formadoras, ou por formadores das próprias
escolas em que trabalham os "novos" professores. Logo, a não
existência de um sistema de "follow-up" destes formandos traduz-se
num "desperdício de formação", com inerentes custos pessoais,
profissionais e financeiros para os docentes envolvidos, e para a
própria Administração Pública.
Deveríamos então reafirmar que a
formação permanente dos professores deveria evoluir no sentido de
abandonar uma visão que pretendia "ensinar" um docente que teria
atingido estágios de "incompetência" e "ignorância" profissionais,
para se centrar na perspectiva de encarar o professor como um
elemento de um contexto escolar, pessoal e interpessoal,
valorizando a sua personalidade, as suas crenças, valores e
expectativas, como variáveis influenciadoras do seu crescimento
pessoal e profissional. Poderíamos, então, e em consequência,
considerar três tendências na organização e desenvolvimento de
"programas" de formação permanente dos docentes: 1 - Formação
centrada na escola. 2 - Continuidade entre a formação inicial e a
formação contínua. 3 - Participação dos professores na organização,
planificação, implementação e avaliação dos projectos
formativos.
É nosso entender que compete aos
formadores aceitar o desafio de buscar entre a divergência de
campos conceptuais quais as linhas conducentes a uma formação que
se deseja gratificante, consolidada, permanentemente inquiridora e
positivamente reflectida na melhoria da aprendizagem dos alunos e
da organização da escola.
O que não podemos admitir mais é
que a escola e os educadores se esgotem em pequenas reformas dos
sistemas de formação que apenas ajudam a uma erosão da sua imagem,
erosão essa que possa levar décadas a recuperar.