A escola e a iliteracia digital
A escola
continua a ser o lugar mais privilegiado para a divulgação e a
utilização didáctica e crítica das novas tecnologias da informação
e da comunicação (TIC).
Por isso mesmo, torna-se
imprescindível que os docentes sejam formados e motivados para uso
dessas novas tecnologias, concebendo-as como instrumentos que devem
interagir com os projectos pedagógicos a desenvolver com os
alunos.
Todavia, é importante
reconhecer que, apesar da assumida necessidade de incluir todas as
novas tecnologias no processo educativo, uma boa escola continua a
ser o que sempre foi: um espaço em que aprendentes e educadores se
encontram, num ambiente que estimula a auto estima e o
desenvolvimento pessoal e que oferece janelas de oportunidade para
o sucesso num mundo que gira em contra ciclo, ao promover o
egoísmo, o individualismo e a concorrência desregrada.
É que não há nenhuma solução
tecnológica que seja capaz de induzir o milagre de transformar um
espaço pobre em relações humanas num lugar interessante e adequado
para gerar a construção de um cidadão com sólidos valores morais e
com uma ética de respeito para com os princípios da democracia e do
humanismo.
Vivemos num novo milénio que
pretende reconfigurar a sociedade, atribuindo-lhe um novo formato
centrado em novas formas de receber e transmitir a informação, o
que implica uma busca interminável do conhecimento disponível. Para
alcançar tal objectivo, imputa-se à escola mais uma
responsabilidade: a de contribuir significativamente para que se
atinja o que se convencionou designar por analfabetismo digital
zero. Para tal, a educação para a utilização das TIC precisa ser
planeada desde o jardim-de-infância. Sem preconceitos ou
desnecessárias coacções, sem substituir atabalhoadamente o
analógico pelo digital, mas sim reforçando a capacidade cognitiva
dos alunos e guiando a descoberta de novos horizontes.
Este novo movimento de
ruptura não deve representar a eliminação ou a fictícia
substituição dos meios de comunicação de massa tradicionais. O que
há de novo é a necessidade de fazer convergir todos esses meios num
processo integral de formação do indivíduo, capacitando-o para
descodificar as mensagens que lhe saltam em cada canto e cada
esquina da sociedade do conhecimento.
Esse movimento deve ser capaz
de preparar os jovens para serem leitores críticos e escritores
aptos a desenvolver essas competências em qualquer dos meios
suportados pelas diferentes tecnologias. Hoje, não basta que o
aluno só aprenda a ler e escrever textos na linguagem verbal. É
necessário que ele aprenda a "ler" e a "escrever" noutros meios,
como o são a rádio, a televisão, os programas de multimédia, os
programas de computador, as páginas da Internet e, até, o
telemóvel…
Por tudo isso, as novas
tecnologias da informação e comunicação devem obrigar à alteração
dos currículos escolares e a modificação da formação e actuação do
professor, que se deve sentir obrigado a actualizar-se em relação
às TIC, de forma a acompanhar a dinâmica de obtenção de informação
e de transformação desta em conhecimento. Nesse
processo, a educação à distância assume-se como um indispensável
complemento do ensino presencial, enquanto modelo de comunicação
educativa que permite superar distâncias e ampliar o acesso ao
conhecimento.
Os jovens foram
os primeiros a descobrir que as novas tecnologias da informação e
da comunicação implicam inúmeras possibilidades de aprender. Para
eles há muito que elas deixaram de ter um estatuto de menoridade e
de simples auxiliar da apreensão do conhecimento. Os estudantes
olham-nas como outras formas de aprender que implicam a mudança dos
modos de comunicação e dos modos de interação nos grupos de
pares.
Importa, pois,
ter consciência que este novo mundo facilita o trabalho docente,
mas também acrescenta angústia e complica a vida do professor.
Este, para além de necessitar possuir um conhecimento
específico da área científica que lecciona, deverá também ser capaz
de identificar nas tecnologias digitais as múltiplas linguagens
favorecedoras da apreensão da realidade.
Não é fácil, mas é esta é a
contribuição que as novas tecnologias podem oferecer para a
consolidação de um mundo mais solidário, desde que a sociedade o
queira integrar de uma forma crítica e eticamente
incontestável.